03/12/2006

PINK FLAMINGOS

Para a Graciele Marim

Pink Flamingos foi filmado durante o inverno, entre 1971-72 em Baltimore, apenas nos finais de semana. Durante a semana John Waters saia atrás de dinheiro para a produção. Para compor o elenco ele chamou vários de seus amigos mais próximos, como Mink Stole, Mary Vivian Pearce e Harris Glen Milstead, mais conhecido como Divine.
O excelente documentário “Os Filmes Proibidos da Meia Noite” mostra o enorme sucesso alcançado pelo filme quando lançado em 1973 no Elgin Theater de Nova Iorque, tendo ficado quase 1 ano em cartaz. E nunca deixou de ser visto e comentado desde então.

Divine, a opulenta musa drag queen de Waters, interpreta Babs Johnson, uma fugitiva da polícia que mora num trailer no meio da floresta junto com sua mãe, Mama Edie, deficiente mental, seu filho Crackers, delinqüente juvenil, e uma amiga de viagem, Cotton, que se satisfaz vendo Crackers transando com as namoradas.
Babs ganha dos tablóides o título de a pessoa mais depravada do mundo, o que provoca ciúmes no casal Raymond e Connie Marble, que se acham merecedores da honraria.
Afinal, os Marble seqüestram mulheres jovens, e fazem com que seu empregado as engravide para vender os bebês a casais de lésbicas. O dinheiro da venda é usado para financiar seus outros empreendimentos, como pornô-shops e uma rede de tráfico de heroína para ser vendida nas portas das escolas.
Baltimore será então palco de uma verdadeira guerra entre as duas famílias para saber quem ficará com o troféu de mais depravado do mundo.
Um exercício em mau gosto, diz a frase promocional, e é exatamente disso que se trata.
A não ser que você ache de bom gosto ver cenas como uma galinha sendo morta no meio de uma transa (a ave foi servida no almoço da equipe, após a filmagem), um ânus cantante (sim, isso mesmo que você leu, mas só vendo pra crer), uma mulher gorda se empanturrando com ovos cozidos, uma mãe executando um fellatio (explícito) no próprio filho ou um cara com uma enorme lingüiça pendurada no pênis se exibindo para garotas incautas, até o momento em que ele mesmo terá uma desagradável surpresa ao se aproximar de uma mulher que na verdade é um transexual e lhe mostra seu “material” intacto.

Mas o ponto culminante, a cena mais famosa e responsável pelo sucesso do filme, e até hoje motivo de polêmica, acontece no final quando Divine come o cocô que um cachorrinho acabara de fazer, um plano sem cortes para deixar claro que era tudo real.
Mas eu, que já estava preparado para o pior depois de tanto tempo só ouvindo falar, acabei me decepcionando um pouco com a cena porque, na verdade, ela não come a "iguaria", "apenas" mastiga e depois cospe com uma evidente expressão de ânsia de vômito.
No entanto, no meio de toda a escatologia encontram-se cenas muito divertidas, uma feroz crítica a sociedade americana e diálogos saborosos. Uma das melhores frases é o grito de guerra de Babs: "Matem todo mundo! Defendam o canibalismo! Comam merda!"
A partir de 1987, com Hairspray, John Waters passaria a fazer filmes mais mainstream (em termos, claro), trocando a navalha pelo corte mais sutil do bisturi.
Como ele disse em várias entrevistas desde então, ser rebelde aos 20 anos é saudável, mas aos 40 é ridículo!

12 comentários:

Anônimo disse...

Pink Flamingos e Divine são ícones máximos da VERDADEIRA transgressão artística. Ainda hoje o filme diverte e choca com muita propriedade e nunca conseguiu ser superado como fenômeno cultural "Maldito". Eram outros tempos aqueles mostrados no documentário dos Filmes Proibidos.Adorei os comentários do público na época após a sessão de Pink Flamingos com declarações do tipo "Eu achei melhor do que Gritos e Sussurros" entre outros, era um povo muito divertido e completamente pirado, sem um traço de caretice. Hoje, se esse filme passasse em uma apresentação especial na Mostra Sp o dito público jovem e "moderno" iria esvaziar a sala já no início do filme...

Anônimo disse...

Fala, Marcelo! Pink Flamingos é chocante e divertido ao mesmo tempo, realmente transgressor. Os comentários do público no doc. são bem engraçados, um dos caras diz que o Waters enfiou o dedo no c... da América ou algo assim hehehe!!!
Acho que o público da Mostra nem sempre foi careta, na década de 80 lembro de ter visto vários filmes americanos B, e houve uma retrospectiva Roger Corman, e outra dedicada ao trash. Mas os "mudernos" de hoje não aguentariam nem 5 min. de Pink Flamingos, com certeza.
Obrigado pelo comentário, Marcelo! Abraço!

Anônimo disse...

não conheço esse filme. oi sergio, continuo achando o nome coração de apache péssimo. detesto essa mania no Brasil de "interpretar" personagem e dar esteriótipos em nomes. resumir liliom em um marginal que se envolvia em ações ilegais é empobrecer terrivelmente uma obra de friz lang. que dirá colocar o coração, isso é cafona demais. devia ser alguma estratégia de marketing medíocre do brasileiro pretensioso quee sempre acha que tem melhores idéias que os grandes autores. e que assim vai "vender" mais. liliom sim é o melhor nome. beijos, pedrita

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Amore, A-DO-REI o texto e a dedicatória (nada discreta, diga-se).


Vc comprou o DVD?

Waters rocks!

Anônimo disse...

Obra prima do trash! John Waters é muito bom!

Anônimo disse...

PEDRITA - O título é péssimo sim, mas o Brasil já tem tradição em dar títulos ruins para filmes estrangeiros, o espaço desse blog seria pequeno para listar todos hehehe! Só pra dar um ex: Persona do Bergman se chamou "Quando duas mulheres pecam" nos cinemas!
Mas se vc fizer uma pesquisa vai perceber que não temos a exclusividade nesse quesito!
E concordo, deviam ter deixado apenas Liliom, mesmo. Bjs!

GRACIELE - Que bom que gostou!
A dedicatória tinha que estar a altura do filme hehehe :) Mas se vc quiser, eu mudo!
Comprei sim, e valeu a pena!
Beijão :)

RONALD - Esse filme é punk hehe! E viva John Waters!!!

Andrea Ormond disse...

Oi Sergio, fiquei aqui rindo, lembrando de outros títulos absurdos. Um que sempre lembro é o "Leave her to heaven", aquele dramalhão com a Gene Tierney, que virou "Amar foi minha ruína" rs Quer coisa mais Rádio Nacional do que isso? :) Mas pelo menos faz sentido, no espírito da coisa. Sobre o "Pink Flamingos", concordo com o Marcelo. Se visto hoje, iria ser chamado de incompreensível, por grande parte do público. Beijos

Anônimo disse...

HAHAHA!!! Bem lembrado, Andréa, esse título do "Leave her..." é ridículo :)
E o Shane (Os Brutos também amam)? Ou Giant (Assim caminha a humanidade)? Ambos do George Stevens, o que me faz suspeitar que o cara que deu esses títulos devia ter alguma coisa contra o diretor hehe :)
Beijos!

André disse...

Adoro esse filme, e a citação à NIGHT OF THE LIVING DEAD? E o repórter que chega pra Divine e pergunta se ela acredita em Deus, e ela responde: "I AM God!"
foda!

Anônimo disse...

Fala, André! São tantas cenas ótimas que não dá pra citar todas. Além dessa citação ao filme do Romero e da resposta da Divine poderia falar tb da execução ao vivo, da vingança das moças raptadas, o namoro da mãe de Babs com o entregador de ovos, etc...

Anônimo disse...

Meu caro: Seu tewxto foi parar no Balaio. Abraços.

Anônimo disse...

Muito obrigado pela honraria, Moacy :)
Abç!

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