Na noite da cidade ouve-se um apito e um grito: “Acorda, Humanidade!”. O responsável por isso é um doidinho, desses que vemos diariamente andando pela cidade falando sozinho, dançando diante de lojas de CDs, atrapalhando desfiles cívicos. Pois é a esse ser humano, ao qual não nos interessa ouvir nem encarar, marginal entre marginais, que Edgard Navarro dá a palavra e expõe na tela.
Logo no início nosso herói invade um prédio residencial onde o porteiro dormia. A polícia é chamada e ele é mandado para o Manicômio Estadual da Bahia, onde repete a palavra: “Es-qui-zo-frê-ni-co”. Um tempo depois é solto e passamos a acompanhá-lo por uma Salvador que não é aquela dos cartões postais, para turista ver, mas sim a dos lixões, da sujeira, dos mendigos, das fezes. Veremos ele, entre um delírio e outro, assustando transeuntes de noite, em cima de uma árvore clamando por uma mulher (citação explícita de Fellini); roubando o colar de uma senhora na igreja para oferecer à Iemanjá; invadindo a área de treinamento do exército em plena atividade e tendo a revelação ao ver, no Cine Glauber Rocha, o cartaz do filme Superman com Christopher Reeve. A partir daí, vestido como Superoutro, ele irá se dedicar a cumprir seu dever para com o Brasil, que é saltar do Elevador Lacerda e voar. Mas antes disso ouvirá argumentos pró (de uma evangélica) e contra (de um militante de esquerda) seu ato, na Praça Castro Alves.
A câmera de Navarro não se furta diante de nada, nem mesmo quando o personagem faz suas necessidades fisiológicas (e duas cenas podem ser bem chocantes para pessoas mais sensíveis). A trilha sonora é das mais ecléticas, incluindo Villa-Lobos, Carlos Gomes, Caetano Velloso, Banda Mel, Nino Rotta, Arrigo Barnabé, Chitãozinho e Chororó, Carl Orff, entre outros.
Resta comentar a interpretação de Bertrand Duarte, que simplesmente incorpora o personagem sem o menor pudor. Esse excelente ator interpretaria depois um dos amigos no excepcional Alma Corsária, de Carlos Reichenbach.
Sarcástico, anárquico, indignado, revoltado, Superoutro inaugurou um espaço dedicado aos filmes de vanguarda no Canal Brasil. A escolha não poderia ter sido mais apropriada.
Superoutro. Dir.: Edgard Navarro. Com Bertrand Duarte. 48 min, cor, 35mm, 1988.
Logo no início nosso herói invade um prédio residencial onde o porteiro dormia. A polícia é chamada e ele é mandado para o Manicômio Estadual da Bahia, onde repete a palavra: “Es-qui-zo-frê-ni-co”. Um tempo depois é solto e passamos a acompanhá-lo por uma Salvador que não é aquela dos cartões postais, para turista ver, mas sim a dos lixões, da sujeira, dos mendigos, das fezes. Veremos ele, entre um delírio e outro, assustando transeuntes de noite, em cima de uma árvore clamando por uma mulher (citação explícita de Fellini); roubando o colar de uma senhora na igreja para oferecer à Iemanjá; invadindo a área de treinamento do exército em plena atividade e tendo a revelação ao ver, no Cine Glauber Rocha, o cartaz do filme Superman com Christopher Reeve. A partir daí, vestido como Superoutro, ele irá se dedicar a cumprir seu dever para com o Brasil, que é saltar do Elevador Lacerda e voar. Mas antes disso ouvirá argumentos pró (de uma evangélica) e contra (de um militante de esquerda) seu ato, na Praça Castro Alves.
A câmera de Navarro não se furta diante de nada, nem mesmo quando o personagem faz suas necessidades fisiológicas (e duas cenas podem ser bem chocantes para pessoas mais sensíveis). A trilha sonora é das mais ecléticas, incluindo Villa-Lobos, Carlos Gomes, Caetano Velloso, Banda Mel, Nino Rotta, Arrigo Barnabé, Chitãozinho e Chororó, Carl Orff, entre outros.
Resta comentar a interpretação de Bertrand Duarte, que simplesmente incorpora o personagem sem o menor pudor. Esse excelente ator interpretaria depois um dos amigos no excepcional Alma Corsária, de Carlos Reichenbach.
Sarcástico, anárquico, indignado, revoltado, Superoutro inaugurou um espaço dedicado aos filmes de vanguarda no Canal Brasil. A escolha não poderia ter sido mais apropriada.
Superoutro. Dir.: Edgard Navarro. Com Bertrand Duarte. 48 min, cor, 35mm, 1988.
4 comentários:
Oi, Sérgio! Muito legal seu blog, eu realmente não conhecia ainda. Já serei leitor (e comentador) cativo, :-)
Também tenho um, o Impressões Cinéfilas, não sei se conhece (mas acho que já li comentários seus lá, ou estou louco?). De qualquer forma, fica o convite: http://impressoescinefilas.blogger.com.br
Vai sempre! E se puder me linkar aqui tb, seria ótimo. O seu eu já coloquei na minha página, :-)
Abração e nos falamos.
Marcelo Miranda!!! Que honra receber sua visita e saber que vc gostou do meu blog, e melhor ainda me linkou no Impressões!!! Claro que conheço seu blog, visito ele com frequência, é um dos melhores da net, e vc é um grande crítico de cinema. Irei incluí-lo nos meus links já, já, com certeza. Grande abraço!!!
O superoutro é realmente muito bom. Não sabia desse novo espaço do Canal Brasil, muito legal - como é que se chama, mesmo? E tem filme novo do Navarro estreando esse ano, eu acho.
Chama-se Brasil Cult, toda quinta-feira por volta das 22:30. Vai ter outro Navarro este ano? Que ótimo! Algum tempo atrás li que ele estava se preparando para o primeiro longa-metragem que se chamaria Eu Me Lembro (referência ao Amarcord de Fellini, que é citado na cena da árvore, veja só!) Será que é esse?
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