13/09/2005

INIMIGO PÚBLICO

No café da manhã Tom Powers, irritado com a namorada interpretada por Mae Clarke, esmaga uma grapefruit em seu rosto. Uma das versões diz que a expressão de surpresa da atriz foi real, já que o combinado era que James Cagney apenas aproximaria a fruta de sua face. Seja qual for a verdade, o que importa é que a cena entrou para a história do cinema como uma das mais lembradas de todos os tempos. O Inimigo Público é uma das mais representativas películas do estúdio Warner entre os anos 30 e 40. Naquela época cada grande estúdio de Hollywood tinha uma característica própria, facilmente reconhecível pelo espectador: a Metro tinha os grandes musicais, a Paramount as comédias sofisticadas, a Universal os filmes de terror, e a Warner os dramas sociais.
Aqui acompanhamos a trajetória de Tom Powers, desde a infância pobre em 1909, marcada por um pai autoritário, até sua ascensão como um temido gângster na década de 20, durante a lei seca. O filme parece ser quase um documentário sobre aqueles anos. A sequência que mostra o desespero das pessoas para armazenar as garrafas, logo depois da promulgação da lei que proibia a venda de bebidas alcoólicas, é impressionante. Mas o mais impressionante de tudo é a visceral interpretação de Cagney, no papel que o lançou para o estrelato. Ele faz com que nos identifiquemos com um tipo que é quase um psicopata. Apesar de bastante violento não vemos nenhum assassinato, ou a câmera se desvia ou acompanha de fora o crime, o que aumenta o impacto. Dirigido por William Wellman, um dos cineastas "machões" de Hollywood (o que não impede que ele tenha um sensível olhar para as mulheres da trama, em especial a personagem interpretada por Jean Harlow), The Public Enemy é sensacional. O mesmo podemos dizer do DVD da Warner, lançado na Coleção Gangsteres, numa cópia perfeita e recheada de extras. Entre outras coisas, há vários curtas-metragens produzidos pelo estúdio na época, e principalmente um documentário em que diversos especialistas analisam o filme, entre eles Martim Scorsese, que inclusive faz uma ponte entre este e o filme que estava dirigindo então, um tal de "O Aviador". Tudo com legenda em português! Imperdível!!!
O Inimigo Público (The Public Enemy). Dir.: William A. Wellman. Rot.: Kubec Glasmon, John Bright e Harvey F. Thew. Fot.: Dev Jennings. Mont.: Edw M. McDermott. Com James Cagney, Jean Harlow, Edward Woods, Joan Blondell, Donald Cook, Mae Clarke. EUA, 1931, P&B, 83 min.

12 comentários:

Anônimo disse...

Vergonha!! Não conheço esse filme.

Fiquei com água na boca, adoro Wellman e conheço muito pouco de Cagney (novamente: vergonha!!).

Alternativa: comprar!!!

Anônimo disse...

Eduardo, dessa vez só pude alugar, mas quando sair o pagamento pretendo comprar a coleção completa!

Anônimo disse...

Sergio, esqueceu de mencionar que os grandes estúdios detinham seu cardápio variado de filmes de gênero em virtude, também, das condições econômico-financeiras dos produtores; portanto a Warner - mais tarde conhecida pelos seus sofisticados policiais 'noir' - investiam, naquele momento, em dispendiosos filmes de gangsters, ao passo que, por exemplo, a Metro nos brindava com dramas históricos e folhetinescos musicais dirigidos ao público mais 'intelectual'. Vi a caixa a que vc se refere e tive que usar meu babador...

Anônimo disse...

Pois é, Walner, há muita coisa a ser dita sobre o sistema de produção dos estúdios da velha Hollywood, o problema é a falta de tempo e espaço. O que eu achei importante ressaltar foi que os estúdios tinham uma identidade, o que inclusive facilitava a vida do espectador na hora de escolher o filme que queria ver. E a coleção é mesmo de babar!

Ailton Monteiro disse...

putamerda!! Se eu já tava com água na boca quando soube dessa coleção, com esse teu comentário, Sergio, aumentou ainda mais a minha sede. William Wellman é diretor de um dos meus westerns favoritos: CONSCIÊNCIAS MORTAS. Esse INIMIGO PÚBLICO deve ser foda.

Anônimo disse...

Não tenha dúvidas, existia, sim, uma 'identidade' - ou um estilo, se preferir - reinante entre os estúdios. 'O gênio do sistema', cia. das letras, Zatz, fala bem sobre isso.

Anônimo disse...

Ailton, muito bem lembrado, Consciências Mortas é um dos maiores faroestes já feitos. Wellman é fera. Inimigo Público parece ter sido feito ontem, não envelheceu nada!!!

Anônimo disse...

Walner, vc citou um livro fundamental para entender todo o processo de produção dos estúdios da velha Hollywood.

Ailton Monteiro disse...

Aluguei esse filme junto com ANJOS DE CARA SUJA hoje.

Anônimo disse...

Legal, Ailton. Anjos... é um que estou louco prá rever, assisti há muito tempo numa madrugada na Globo.

Anônimo disse...

Sergio, que texto delicioso!!!!! Adorei! Seu Blog está fantástico!
Beijão! Graciele

Anônimo disse...

Graciele, obrigado pelas palavras! Beijão!!!

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