05/10/2008

“Há 13 anos, em O Imaginário Vigiado, Dênis de Moraes escancarou os bastidores da atritosa convivência de Astrojildo e outros comunistas sem antolhos com os jdanovistas do Partidão. Não esgotou o assunto, nem tencionava isso, deixando um farto filão de equívocos, intransigências, injustiças e torpezas à disposição de outros historiadores. Um relato minucioso dos desatinos do PCB no plano das idéias e da ação cultural certamente contribuiria para consolidar a reputação da liberdade de pensamento como uma preciosidade impermeável a toda e qualquer ideologia, sem exclusão daquelas, sobretudo daquelas que se acreditam libertárias e redentoras.”


“Aos impacientes, uma recomendação: aguardem o blog do próximo dia 7. É a partir daquela data que Orwell começa a dar atenção a outro tipo de nuvem: os metafóricos nimbos que sobre a Europa se acumulavam em forma de suástica. E, por tabela, ao fascismo, ao comunismo, ao desemprego, à imprensa. Sem deixar de lado a criação de galinhas, a carpintaria, as florestas e todas as manifestações da natureza que, mesmo na guerra, continuam existindo e sendo parte fundamental do cotidiano de cada um.”


“Sai a “pátria de chuteiras”, entra a “pátria do lenço”. Chorou-se tanto nos Jogos de Pequim, que a Kleenex e a Softy’s deveriam pensar seriamente em investir pesado nas próximas Olimpíadas. Se o choro fosse uma modalidade esportiva, o Brasil teria ultrapassado a China e os EUA no ranking de medalhas. A rigor, só os vitoriosos e os notoriamente prejudicados (como a Fabiana Murer) deveriam debulhar-se em lágrimas.”


“Seus personagens riam até a beira do precipício. O riso de Risi era amargo.

Seu forte era a crítica de costumes, mais que a paródia ou a sátira escrachada, embora nestas tenha se exercitado algumas vezes, gozando a própria indústria cinematográfica, a televisão, e até a abulia dos personagens de Antonioni. Foi um dos observadores mais irônicos, implacáveis e cruéis da sociedade italiana pós-fascista. Sem uma gota de pedantismo; sem jamais descambar para o sermão ou apelar para a demagogia. O sentimentalismo fácil também o repugnava.”


“A escolha de O Otário foi uma jogada pérfida de Benayoun. Já que o radicalismo do Cahiers (e seus novos cineastas-fetiches: a dupla Jean-Marie Straub & Daniele Huillet, Carmelo Bene, Philippe Garrel, e outros mais que sumiram do mapa, acabaram na televisão, caminharam céleres para o anonimato ou simplesmente morreram) propunha a destruição do “efeito de realidade” do cinema, a “desconstrução da câmera”, a exposição da mise en scène mediante a revelação dos bastidores das filmagens, nada mais justo que sagrar a comédia metalingüística de Lewis como o filme mais marxista de todos os tempos – “ainda que realizado por um magnata capitalista, sionista e favorável à ideologia do consumo”, tripudiava Benayoun.”


“Ídolo dos filhos do paradigma, o teuto-francês Straub destacou-se, naquele período, como uma das figuras mais pernósticas e perniciosas do cinema. Não só fazia os filmes mais hieráticos, pomposos e enfadonhos do planeta, como jactava-se, em entrevistas, de seu empenho para abolir a linguagem cinematográfica. “Espero que meu filme não signifique nada”, declarou a propósito de Othon, lançado em 1969. “Meu trabalho responde a uma estratégia de expropriação, de despossessão, de volta à afasia”.

Nunca descobri se essa afasia era filosófica (suspensão de pronunciamento referente à verdade ou à falsidade de qualquer coisa) ou neurológica (perda do poder de expressão pela fala, pela escrita ou pela sinalização, ou da capacidade de compreensão da palavra escrita ou falada, por lesão cerebral). Mas desconfio que isso continua não tendo a menor importância.”



Sérgio Augusto = Gênio

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Meu caro, considero Sérgio Augusto um crítico cultural bastante consistente. E muito bem informado. Mas gênio? Não há, de sua parte, um pouco de exagero? Abraços.

Anônimo disse...

Meu caro Moacy, não creio que haja exagero da minha parte. Acho que, na crítica cultural, Sérgio Augusto é um gênio, sim. Abraço.

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