06/04/2007

RELATO DA MOSTRA "CINCO VISÕES DE NOSSO CINEMA"

Quando, no começo de janeiro, o Vinicius me procurou sugerindo uma mostra de filmes na Biblioteca, imediatamente eu pensei em cinema brasileiro.
Dei uma olhada na lista da coleção de filmes em 16mm dele, à procura dos títulos nacionais. Vi que ele tinha cópia de Anjo Loiro, de Alfredo Sternheim, e pensei comigo que o Matheus Trunk poderia gostar de ver esse filme; passei por Ato de Violência, de Eduardo Escorel, e na hora lembrei do Marcelo Carrard; quando cheguei ao Palácio dos Anjos, do Walter Hugo Khouri, e os nomes do Edú Aguilar e da Andréa Ormond vieram a minha mente percebi que a Mostra estava pronta: por que não convidar esses amigos para participarem como palestrantes?
Depois de trocar umas idéias com o Vinicius fechamos a programação com esses três filmes, mais O Cangaceiro e A Baronesa Transviada.
O próximo passo seria convidar o pessoal. Enviei e-mails primeiro para o Matheus e para o Carrard, depois para o Aguilar e finalmente para a Andréa, a única que até então conhecia apenas virtualmente.
Confesso que fiquei surpreso com a rapidez com que eles aceitaram participar, afinal são pessoas ocupadas com seus trabalhos, seus compromissos, sendo que no caso da Andréa havia o agravante dela residir no Rio de Janeiro. Mas o entusiasmo deles me ajudou a ver que estava no caminho certo.
Com o auxílio do Matheus entrei em contato com o Alfredo Sternheim e com o Mauro Alice, e ambos também foram super receptivos com o convite para estarem presentes nos dias de exibição do Anjo e da Baronesa.
Pronto, a programação estava montada com os filmes, os palestrantes e os convidados.
No primeiro dia da Mostra, com O Cangaceiro, senti um certo friozinho na barriga. Será que viria alguém? Afinal o horário não era dos mais convidativos (13:00 hs do sábado), o dia estava ensolarado na cidade, era um filme relativamente bem conhecido e Santo Amaro não é dos bairros mais acessíveis. No entanto me acalmei quando vi cerca de 20 pessoas no auditório. Nesse dia pude conhecer o Jorge Rubies, que se tornou um dos mais assíduos freqüentadores da Mostra.
No sábado seguinte era a vez de Palácio dos Anjos, e o Mauro Alice fez questão de estar presente para rever esse filme que ele tinha visto apenas na época do lançamento nos cinemas, no início dos anos 70. Graças a colaboração de minha colega de trabalho, Nadime, consegui a condução para buscá-lo em sua casa.
Sexta-feira a Andréa chegou do Rio, ficando hospedada no apartamento do Carrard. Por volta das 18:00 hs ela me ligou para avisar que tinha chegado e então aconteceu uma coisa, uma experiência particular, que acho que vale a pena dividir com os amigos e fiéis do blog.
A noite estava muito quente, como aconteceu em quase todo o mês de março aqui em São Paulo. Eu havia acabado de chegar na FNAC da Av. Paulista quando recebi a ligação da Andréa no meu celular. Ela me convidou para ir até o apê do Carrard, onde também se encontrava o Matheus, e depois iríamos jantar com o Alfredinho e o Antônio Carlos. Voltei então para a Paulista, mas quando sai da loja o tempo havia mudado completamente. O céu estava carregado de nuvens pretas, raios cruzavam os céus seguidos de assustadores trovões, e as primeiras gotas de chuva começavam a cair. Não haviam passado nem cinco minutos desde que eu havia chegado ali! Peguei um ônibus até a frente do prédio do Cine Bristol e desci a passos largos a Rua Frei Caneca. As nuvens estavam cada vez mais carregadas, os trovões mais fortes, e eu já me imaginava chegando completamente ensopado ao encontro. De fato, enormes gotas de chuva caiam ao meu redor, mas estranhamente nenhuma me atingia. Acho que cheguei em tempo recorde ao prédio onde mora o Marcelo, molhado apenas de suor. Tendo chegado são e salvo, pensei comigo mesmo: “Que poderoso encontro cósmico, esse!”
Subi ao apartamento e pude finalmente abraçar a querida Andréa. Conversamos nós quatro por algum tempo, até a chegada do Alfredo. Quando saímos do prédio, o céu estava claro novamente, o tempo quente, nenhum sinal de chuva, confirmando aquele meu pensamento. Nessa hora percebi que tudo daria certo!
Todos que acompanham este blog, e lêem os comentários, sabem que a sessão do filme do Khouri foi excelente.
Assim como a sessão do filme do Escorel, com a palestra do Carrard; a última exibição da cópia do filme do Macedo, seguido de debate com Mauro Alice e Matheus e a sessão do filme do Sternheim com presença do próprio e de novo Matheus Trunk.
Enfim, quero dizer que apesar da falta de uma melhor estrutura, foi muito gratificante ter promovido essa Mostra.
Que não teria existido sem a participação de todos os amigos: Vinicius, Edú, Andréa, Marcelo, Matheus, Nadime, minha irmã Sandra, Mauro, Alfredo. Gostaria de poder agradecer pessoalmente a todos os espectadores da Mostra. E quero fazer um agradecimento especial aos funcionários da Biblioteca, em especial o Pedroso. A todos vocês, meus mais sinceros agradecimentos!
Aproveito também para pedir desculpas por eventuais falhas ou deslizes da minha parte. Se houve, espero poder reparar no caso de ter fôlego para promover outro evento das mesmas proporções.
Peço desculpas também pelas toscas fotos tiradas por este fotógrafo amador, em especial pelos muitos olhos vermelhos. Juro que experimentei todas as opções de flash da câmera para ver se resolvia o problema, mas não adiantou muito, alguém sempre aparecia com olhos vermelhos! Prometo que irei descobrir o que fazer para evitar isso, para que nunca mais aconteça.
Foram muitas as emoções e lembranças desses cinco dias de março que carregarei comigo, como ter podido conhecer pessoalmente essa grande batalhadora e pesquisadora de nosso cinema, Andréa Ormond, as conversas informais com Mauro Alice no caminho entre sua casa e a Biblioteca, e vice-versa, e tantas outras que não caberiam neste espaço.
Mas se tivesse que escolher uma só lembrança da Mostra “Cinco Visões de Nosso Cinema”, diria que foi ter ouvido o Alfredo Sternheim cantarolando a brilhante trilha-sonora de seu filme durante a projeção, visivelmente emocionado pelas lembranças das filmagens. Só pelo fato de ter podido proporcionar essa emoção a ele já me sinto recompensado.

7 comentários:

Anônimo disse...

Foi extraordinário Serjão ! Belíssimo depoimento, eu é que mais uma vez rsrs agradeço a sua gentileza em ter me chamado. A mostra foi muito especial, principalmente a última sessão com o Alfredinho foi sem dúvida nenhuma memorável. Creio que estamos fazendo o que podemos pelo cinema brasileiro. Abração !

Anônimo disse...

Nossa SÉRGIO quanta coisa rolou, esse março de 2007 foi mesmo movimentado para todos nós. A falta de recursos é natural em se tratando de nosso país onde os patrocínios estão reservados a pequenos grupos de forma hereditária, regional e outras que nem vale a pena comentar. Quanto a distância, creio que 30 min de ônibus saindo do centro numa cidade como São Paulo não é nada tão assustador, faltou boa vontade de alguns e descaso de outros, mas quem foi na Mostra não se esquecerá daqueles momentos preciosos. Pra mim em especial além do nosso jantar com o Alfredo e o Antônio, acompanhados da Andréa e do Matheus, foi sensacional, uma das melhores noites de minha vida, e aquele bife a parmegiana me traz ótimas recordações embora eu estivesse em meio ao regime que está terminando diga-se de passagem, mas a minha Palestra onde tive a oportunidade de falar para o público dando uma aula informal me trouxe muita alegria, poder voltar a dar uma aula, mesmo que por um dia, pena que esse semestre não deve rolar o prazer de voltar a lecionar, meu grande sonho. Quanto as fotos acho que problemas são até um charme, eu não saberia fotografar com essas câmeras digitais. Que os encontros continuem, vamos ver se o povo se reune informalmente que seja. Todos agradecemos o convite Sérgio, que venham outras Mostras, em outros lugares quem sabe ou no "Cineclube" da Biblioteca...

Andrea Ormond disse...

Sérgio, parabéns, por tudo! Emocionante repassar todos esses detalhes sobre a Mostra, em especial nosso encontro, certamente místico, naquele dia em que a chuva ia e voltava, parecendo fazer aquela marcação típica da mis-en-scene, em um roteiro de... cinema :) Naquele fim de semana pude finalmente conhecer vc, o Carrard, o Matheus, e além disso passar momentos de extrema felicidade, conversando tb com o Alfredo e o Mauro Alice. A exibição do Palácio dos Anjos se tornou um clássico para mim, justamente em razão dessa atmosfera de troca e de vigor da Arte (com maiúscula, definitivamente! rsrs). Obrigada pelo convite, pelos elogios, pela Mostra em si. Momentos como esses a gente guarda numa prateleira bem acessível da memória, pra nunca esquecer :) Beijos

Unknown disse...

Que depoimento emocionante, Sergio! Fiquei muito tocada. Só tem uma coisa: SÓ CHOVEU NA PAULISTA? Eu JURO que não lembro dessa chuva teimosa que vcs relatam. Isso significa que deve MESMO ter sido algo cósmico. Só pode. :)
Pessoal, estou ansiosa pela próxima empreitada de vcs. Fiquei tristíssima por não ter podido me juntar à platéia desse evento tão bacana.

Anônimo disse...

Fala Sergio!!! Belo depoimento, só me resta reiterar o q. já foi dito pelos demais, foi um enorme prazer participar dessa mostra e apesar de não ter acompanhado todas as sessões, ao participar da última, tive a nitida sensação de q. houve uma evolução na estrutura, no sentido do aperfeiçoamento. Claro q. em relação ao cuidado e carinho com q. vc. cuidou do evento e dos participantes, não há o q. reclamar, mas sp. é possível aprimorar as questões técnicas e de logística e vc. já deu sinais de q. está atento a isso.

Parabéns! E da minha parte, fiquei emocionado ao ler esse seu relato sobre o Alfredinho cantarolando a trilha do filme, com certeza, não há preço q. pague um momento como esse! E q. filme, "O Anjo Loiro", q. puta filme!

Anônimo disse...

MATHEUS, MARCELO, ANDRÉA, GRACIELE E EDUARDO - Muito obrigado pelos comentários e pelas palavras carinhosas. Foram dias repletos de emoções mesmo, momentos que, como disse a Andréa, devem ser guardados com carinho na prateleira da memória. Obrigado a todos pela participação, pelo apoio, pela torcida. A emoção é muito grande neste momento, vou parando por aqui...

Abreijos!

Anônimo disse...

Prezado Sérgio, essas sessões de sábado mais os debates foram para mim um verdadeiro curso intensivo de cinema, e ainda por cima tive o privilégio de conhecer tantas pessoas interessantes, além de alguns personagens que bem mereciam fazer parte de algum documentário (estou me referindo ao famoso Casal 20, que felizmente no filme do Sternheim finalmente decidiu sentar na última fila). Só São Pedro resolveu não ajudar, com o mês de março mais quente da história e aqueles temporais invariavelmente logo após o final das sessões. Mas mais uma vez, um PARABÉNS com maiúsculas a você, ao Vinicius e a todos os palestrantes por proporcionar esses momentos em que a frase "unir o útil ao agradável" nunca foi tão verdadeira.

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