12/10/2005

TOCAIA NO ASFALTO

Olhos contemporâneos a princípio podem estranhar. O ator que surge em cena tem a cara de um Agildo Ribeiro jovem. Passados alguns minutos não há mais dúvida: aquele é o Agildo Ribeiro jovem, o criador de alguns dos personagens mais engraçados da TV, um comediante nato. Quando ele começa a falar com um sotaque nordestino temos logo vontade de rir, sensação que passará no momento em que mata um cara com um tiro no meio da testa (mais tarde descobriremos o motivo desse ato). Percebemos então que aquele não é o Agildo a que estamos acostumados.
Aqui ele interpreta Rufino, um matador de aluguel alagoano contratado para realizar um serviço na Bahia. Seu alvo: um coronel candidato a Governador do Estado. Durante a festa de lançamento de sua candidatura em sua mansão fica-se sabendo que há uma suspeita de que o coronel tenha mandado matar um adversário político; sua filha descobre que ele é corrupto; e um jovem deputado de esquerda informa-lhe que abriu uma CPI para investigá-lo.
Chegando na cidade de Salvador Rufino hospeda-se num prostíbulo local, onde se apaixonará por uma das moças da casa. Em torno desses personagens circulará uma galeria dos mais variados tipos: a cafetina, uma jovem levada contra a vontade ao bordel por um investigador de polícia nada confiável, um outro matador contratado para dar cabo de Rufino quando há uma reviravolta política. A cidade é um caldeirão prestes a explodir.
Algumas falas, principalmente as ditas pelo jovem e idealista deputado, soam um pouco datadas, ainda mais tendo em vista tudo que está acontecendo atualmente. Mas o que importa é o clima de tensão mantido por Roberto Pires. Ele mistura denúncia política com Filme B americano. A seqüência do assassinato no cemitério deixa isso bem claro, podemos sentir um sopro de Samuel Fuller ou Don Siegel. O próprio personagem do investigador me fez lembrar de um parecido em O Beijo Amargo, se bem que o filme baiano é anterior ao de Fuller.
Mas o que quero ressaltar, acima de tudo, é Rufino, que apesar de ser um matador é um homem íntegro, cumpridor de sua regra de conduta, que as circunstâncias da vida levaram a exercer essa profissão (e Pires deixa evidente a divisão entre o lado rico e o lado pobre da cidade). Dignas de nota também são a música opressiva de Remo Usai e a fotografia contrastada de Hélio Silva.
E a partir de agora sempre me lembrarei de Agildo Rbeiro não apenas como um ótimo comediante, mas sim um grande ator!
Dir., Rot. e Mont.: Roberto Pires. Prod.: Rex Schindler. Fot.: Hélio Silva. Mús.: Remo Usai. Com Agildo Ribeiro, Araçary de Oliveira, Geraldo Del Rey, Ângela Bonati, Antonio Pitanga, Milton Gaúcho, etc. 1962, Salvador, BA. P&B, 109 min.

Agildo Ribeiro dividindo a cena com Topo Gigio

8 comentários:

Anônimo disse...

Como diria o bebado de "Alma Corsária": que filme, que puta filme!!!

Anônimo disse...

E eu repito: um puta filme! Quer dizer que vc conseguiu assistir? Legal!

Anônimo disse...

Assistir, eu assisti a anos atrás na tv. aberta (bons tempos), o q. eu gostaria era de rever e até se possível, ter uma cópia, falando nisso, pretendo estar lá hoje na sessão do "Matou a Família...", se puder levar a fita com esse filme, agradeço.

Abraços, Edú Aguilar

Anônimo disse...

AMEI esse texto. A-MEI.
Realmente, eu não consigo conceber o Agildo Ribeiro fazendo papel de matador (aliás nem a foto do Post colaborou, né? É o Agildo e o Topo Gigio!!!!). Fiquei morrendo de vontade de conhecer esse filme. Foi em DVD, Sergio?
Parabéns pelo excelente post!
Graciele

Anônimo disse...

E aí, Sergio! Obrigado por linkar o focinho gelado aqui no seu blogue. Como a falta de tempo e o trabalho não me permitem comenar em todos os blogues que acesso, essa é a primeira vez que deixo um recado meu aqui, apesar de acessar o kino crazy desde a época do antigo (e ordinário) provedor zip.net, que também dá muita mancada comigo. Não conheço esse filme com o Agildo Ribeiro, mas fiquei curioso. Abraço!

Anônimo disse...

Eduardo, com certeza, estarei lá com a fita. Abç!

Anônimo disse...

Graciele, eu também não concebia, para mim foi uma grata surpresa! O filme foi exibido no Canal Brasil. Quanto a foto, não consegui nenhuma do filme, o que demonstra o descaso com nossa memória cinematográfica. Mas tenho que admitir que ela tem muito também de minha memória afetiva: na infância adorava esse ratinho..hehehehe

Anônimo disse...

Fala, Fernando! O link do Focinho é necessário! Fiquei contente em saber que vc me acompanha há tanto tempo. Também não consigo fazer comentários em todos os blogs que acesso. Olha, estou muito feliz com este novo endereço, se o bloguol começar a dar muita dor de cabeça, recomendo que vc mude para o blogspot. Quanto ao filme eu gravei da tv. Devo emprestar para o Aguilar, e depois se quiser posso te repassar. Abç!

Pesquisa do Blog