17/06/2014

CINEMA MEXICANO EM DOSE DUPLA

O cinema mexicano marca presença em nossas salas com dois filmes de qualidade, demonstrando sua vitalidade.


Heli é o filme que deu o prêmio de melhor diretor para Amat Escalante no Festival de Cannes de 2013, onde Spielberg foi o presidente do júri. E, no entanto, nada mais distante do universo spielberguiano do que este filme cru, despojado, duro, violento.
Heli é o jovem que mora com a esposa, o filho bebê, o pai e a irmã de 12 anos numa casa simples de uma cidade pequena. A irmã namora um recruta do exército, que rouba alguns pacotes de cocaína que estavam para ser destruídos. A máfia mexicana entra em cena para recuperar os pacotes. Nesse mundo árido, a população parece estar desprotegida, tendo que se defender por conta própria. Membros do alto escalão do exército estão envolvidos com os mafiosos. Uma cena que demonstra isso muito bem é aquela onde um tanque do exército equipadíssimo se posiciona na frente do casebre de Heli. Tem uma sequência de tortura com um momento chocante, onde a câmera de Escalante não recua, mas era necessário para o desenvolvimento da trama que assim fosse. Não é um filme fácil, nem apaziguador.


O outro é mais palatável para o gosto do grande público. O Fantástico Mundo de Juan Orol conta a história do Rei dos Filmes B mexicano. Nascido na Espanha, foi enviado ainda criança pela mãe para Cuba, onde se criou e exerceu diversas profissões (artista de cabaré, jogador de beisebol, boxeador, toureiro) até que, no México, foi apresentado ao cinema, pelo qual se apaixonaria definitivamente. O diretor Sebastian del Amo com certeza se inspirou em Ed Wood, de Tim Burton, para retratar esse artista sem talento mas tão entusiasmado pelo que fazia que ganha nossa simpatia. Além disso o cara tinha muita sorte com as mulheres. Embora tenha perdido a primeira mulher (e depois o filho) de forma trágica, casou-se depois mais 4 vezes com mulheres deslumbrantes, que além de esposas eram também suas atrizes (são elas Maria Antonieta Pons, Rosa Carmina, María Esquivel e Dinorah Judith). O filme começa com um Orol idoso acompanhando uma mostra em sua homenagem e depois ele vai relembrando sua trajetória até ver seus filmes serem destruídos num incêndio da Cineteca Nacional (um letreiro final informa que a maioria de seus 47 filmes hoje encontram-se restaurados). Destaque também para a parte técnica, com fotografia metade em preto e branco e metade colorida. Orol também divide várias cenas com o personagem de seu filme Gángsters Contra Charros, o gângster Johnny Carmenta.

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