20/01/2013

UMA PULGA NA BALANÇA



                                          
"De dentro da prisão, presidiário manda cartas comprometedoras para pessoas importantes, exigindo favores em troca de sigilo.

Filme que retrata acontecimentos recentes da política brasileira?

Não, trata-se de uma produção da Cia. Cinematográfica Vera Cruz realizada em 1953.

Logo no começo vemos um ladrão fazendo todo o possível para ser preso. Seu nome é Dorival e ele planejou o golpe perfeito: escolhe no obituário dos jornais um milionário recentemente falecido (o título refere-se à brincadeira infantil, do tipo “uni, dune, te”), escreve uma carta endereçada ao defunto sugerindo que eram comparsas em um grande golpe para que os familiares leiam e paguem uma vultosa quantia em dinheiro em troca de seu silêncio, afim de evitar o escândalo. Com a grana na conta Dorival começa a levar uma vida de mordomia na prisão (soa igualmente familiar?). Tudo poderia levar a um final feliz, não fosse a paixão dele por outra prisioneira, Dora, que resultará no irônico e doloroso final.

O roteirista italiano Fabio Carpi (de vários outros filmes da Cia, como “Sinhá Moça” e “Floradas na Serra”, e futuro diretor de obras sensíveis como “Quarteto Basileus”) com certeza se baseou em algum fato real acontecido na época (e o letreiro dizendo o contrário reforça essa impressão). Ele capta, de forma contundente, a arrogância e prepotência típicas da burguesia paulistana (e isso vindo de uma empresa que sempre foi criticada, pelos setores da esquerda, por ter sido criada pela burguesia industrial).

Várias sequências se tornaram clássicas, como a que mostra o comportamento dos 4 filhos de um banqueiro antes e durante o velório; aquela durante o enterro de um figurão, com um traveling acompanhando os comentários cínicos e irônicos dos “amigos” do morto; ou o último golpe, que termina com uma manifestação sobrenatural (e efeitos especiais  muito bem feitos para a época).

O também italiano Luciano Salce, no Brasil desde 1950 trabalhando no Teatro Brasileiro de Comédia, estreou na direção já demonstrando o talento que seria comprovado na sua volta à Itália em comédias como “Homem, Mulher e Dinheiro”, os episódios de “As Bonecas” e “As Rainhas”, e “Pato com Laranja”. Sem esquecer que ele foi também o responsável pelo excelente “Floradas na Serra”.

No elenco além de Waldemar Wey (de curtíssima carreira) e a premiada Gilda Nery, brilham Paulo Autran, a russa Lola Brah, John Herbert, o galã Mário Sérgio, Célia Biar, Xandó Batista, Jaime Barcellos e, numa ponta, uma muito jovem Eva Wilma.

Na equipe técnica vale destacar os trabalhos do montador Mauro Alice, do fotógrafo Ugo Lombardi – premiado com o “Saci”, assim como o cenógrafo Ítalo Bianchi – e do músico Enrico Simonetti.

“Uma Pulga na Balança” pode ter envelhecido em alguns aspectos (como no comportamento dos guardas do presídio, p.ex.), mas continua sendo uma das melhores sátiras sociais já produzidas no país."

Publicado originalmente na revista Zingu! n° 39.

2 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Sérgio,
vi esse filme há alguns na TV e achei-o bem interessante. Não me lembrava que o roteiro é de Fabio Carpi, que dirigiu esse belo Quarteto Basileus, que gostaria de rever. Será que foi lançado em DVD? Um abraço e bom que você continue no batente.

Sergio Andrade disse...

É muito interessante mesmo, Sobreira. Acho que Quarteto Basileus não foi lançado em DVD, infelizmente.
E você, quando vai retomar seu blog? A blogosfera precisa de gente que entende de cinema como você.

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