13/01/2013

ABSOLUTAMENTE CERTO!



Em 1957, dez anos após ter estreado como ator e se tornado o maior galã do cinema brasileiro, primeiro nas chanchadas da Atlântida e depois nos dramas da Vera Cruz, Anselmo Duarte realizaria seu maior desejo: dirigir um filme, com roteiro e argumento também dele, baseado numa idéia original de J. Miguel e Jorge Dória.
Absolutamente Certo! (assim mesmo, com ponto de exclamação) se passa nos primórdios da televisão no Brasil, quando quem tinha uma TV cobrava dos vizinhos para assistirem programas como esse que dá título ao filme, onde as pessoas respondiam perguntas sobre determinado assunto na busca do prêmio de um milhão de cruzeiros. Anselmo é Zé do Lino, morador de um bairro periférico de São Paulo que namora há 10 anos sua vizinha Gina (Maria Dilnah), filha de Dona Bela (Dercy Gonçalves), uma das poucas proprietárias de um aparelho de TV no local. Zé vem adiando o casamento devido ao baixo salário que recebe e por ter que cuidar do pai, que está inválido. Como o apelido diz, Zé trabalha como linotipista numa gráfica responsável pela lista telefônica da cidade, e ele acabou decorando a lista inteira: nome do assinante, telefone e endereço. Seus amigos o incentivam a participar do programa, no qual acaba entrando com a ajuda do filho do dono da gráfica, Raul (Aurélio Teixeira), que na verdade comanda uma quadrilha especializada em apostas ilegais e pretende ganhar um bom dinheiro fazendo com que Zé erre a última pergunta.
Nesta sua estréia na direção percebe-se claramente a influência de seu mestre, Watson Macedo, principalmente na inclusão dos números musicais. Alguns deles são bem encenados, mas outros envelheceram mal. Os melhores são “Agora é Cinza”, com o Trio Irakitan, “Jura”, com Dercy e “Quando eu Digo”, com Odete Lara (e aquelas coxas maravilhosas!).
Embora a trama possa parecer bastante ingênua hoje em dia, ela é conduzida de forma bem envolvente, agradável, pelo diretor, que tira o melhor dos seus atores (Dercy, por exemplo, tem uma de suas melhores interpretações daquele período). No elenco encontram-se também os nomes de José Policena (pai do Zé), Luiz Orioni (apresentador do programa), Fregolente (dono da gráfica), Edson França (amigo da gráfica), Jayme Barcellos, um bem jovem Mário Benvenutti e Valentino Guzzo (para sempre Vovó Mafalda), além das participações dos locutores Pedro Luiz e Nelson de Oliveira, do campeão de boxe Paulo de Jesus e do saxofonista Booker Pittman.
Na equipe técnica ele se cercou do que havia de melhor no país, a maioria vinda da Vera Cruz: música de Enrico Simonetti; fotografia de Chick Fowle; operação de câmera de Geraldo Gabriel; montagem de José Cañizares; direção de arte de Pierino Massenzi; produção executiva de Fernando de Barros; assistência de direção de Glauco Mirko Laurelli; engenheiros de som Bosdan Kostiw, Ernst Hack e Ernst Magassi. Como produtor o grande Oswaldo Massaini, da Cinedistri.
Mas o maior atrativo de assistir Absolutamente Certo! hoje é a nostalgia de ver como era a televisão daqueles tempos. Ver Anselmo e Odete andando de romiseta. Ver a vida na periferia, com o quebra-pau entre os vizinhos na rua. Ver, principalmente, como era a cidade nos anos 50. Numa cena o carro onde estão Raul e Zé do Lino atravessa o “Buraco do Ademar” e passa por baixo do Viaduto Santa Ifigênia, e logo depois Zé e Gina pegam um bonde andando. Uma delícia!
Anselmo Duarte, com personalidade, mostrou que tinha talento como cineasta e estava pronto para um vôo bem maior.

Publicado originalmente na revista Zingu! n° 38.


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