26/10/2008

O AVIADOR

Aproveitando o fato de que a TNT estará exibindo hoje "O Aviador", às 22:00hs., republico minha crítica do filme, publicada no dia 27/02/05, no blog antigo.

"O primeiro plano mostra um menino nu dentro de uma banheira, diante de uma lareira acesa. Uma mulher entra no recinto, pega um sabonete e começa a enxaguar o garoto. O menino é Howard Hughes e a mulher sua mãe. Enquanto ela lhe dá banho vai ensinando-lhe, com uma voz suave, a soletrar a palavra QUARENTENA. Ela o alerta sobre uma epidemia que estava acontecendo na cidade e sobre os perigos representados por diversas doenças. Finalmente, ela afirma: “Você não está seguro”.
Todo o filme está resumido neste pequeno prólogo, tudo o que é importante saber sobre o Howard Hughes adulto encontra-se aqui. Aquela marca de sabonete será a mesma que ele sempre usará. Temos o elemento da água, que virará uma obsessão; o medo das doenças; a palavra que o acompanhará por toda vida. Cenas se repetirão durante o filme: o garoto nu diante da lareira e o homem nu queimando as roupas numa fogueira; as mãos da mãe lavando o corpo do filho e as mãos do homem que percorre da mesma maneira os corpos das mulheres e a superfície dos aviões.
Até mesmo alguns fatos da biografia oficial de Hughes que são omitidos no filme, como seu racismo, podem ser encontrados aqui, quando a mãe lhe diz para se manter distante da casa das pessoas de cor marcadas com x devido a epidemia.

O resto do filme é uma ficção scorsesiana sobre um personagem típico de seus filmes: ambicioso, determinado, neurótico, sonhador e destinado à queda, sempre em busca de uma redenção. E isso fica claro nas diversas vezes que ele tem a visão ofuscada pelos flashes das câmeras fotográficas ou quando tem sua imagem refletida numa lente de cinema.
Dessa forma Scorsese pode desrespeitar datas, eliminar personagens e omitir fatos.
O Hughes de Scorsese é uma criança crescida (e em duas cenas distintas que, vejam só, também se passam num banheiro, Katharine Hepburn e Ava Gardner lhe dirão para deixar de ser criança), mimado, que havia prometido para a mãe que seria o mais rico, dirigiria os maiores filmes, voaria mais alto.

O próprio título do filme é significativo. Há todo um simbolismo relacionado ao desejo de voar , de ter asas, de subir aos céus; o simbolismo é ascensional e sexual, já que Hughes imaginava as nuvens como grandes seios que os aviões penetrariam (daí sua atividade sexual preferida). Um desejo de potência e de pureza.. No caso de Howard Hughes seu desejo se dividia entre mulheres e homens, e o fato de Scorsese não ter mostrado seus casos homossexuais tem causado muita polêmica. Mas, na minha opinião, como eu já disse antes, a opção dele foi mostrar um lado do personagem com o qual ele mais se identifica, o que de forma alguma diminui a importância do filme. Trata-se da visão que Scorsese tem de um ser humano, e um ser humano tão complexo que certamente não cabe em apenas um filme. Um homem que sonhava com o caminho para o futuro mas encontrava uma barreira em si mesmo. Por diversas vezes a câmera o enquadra de costas, com o mundo a sua frente, para logo em seguida cortar para um close, um primeiríssimo plano. Um homem e seu limite. O impedimento de Hughes estava em sua neurose, sua doença compulsiva, seu complexo de Édipo.

Leonardo Di Caprio está ótimo no papel, demonstrando ser o melhor ator de sua geração. Infelizmente as atrizes não estão à sua altura. Cate Blanchett é simplesmente lamentável, patética em sua tentativa de imitação da genial Katherine Hepburn. Poucas vezes uma atuação foi tão artificial, tão caricatural. Kate Beckinsale, apesar de bonita, não chega nem perto da exuberância de Ava Gardner. E o que dizer daquela loira horrorosa que tenta se passar pela belíssima Jean Harlow? Triste, triste...
Essas falhas de interpretação é que enfraquecem o filme, mas em compensação John C. Reilly, Alan Alda e Alec Baldwin estão muito bem. Sem falar nos aspectos técnicos, como a fotografia de Robert Richardson e a montagem de Thelma Schoonmaker.

O Aviador pode não ser uma obra-prima, mas é mais uma demonstração da maestria de Martin Scorsese."



6 comentários:

Ronald Perrone disse...

Que beleza de texto! Me deu vontade de rever, mas não na TNT dublado, heheh... Ainda bem que tenho o DVD aqui.
Abraços!

Anônimo disse...

Posso perguntar se você é homossexual?

Não por preconceito, mas se você for, já percebi aonde a sua crítica é menos equilibrada.

Anônimo disse...

Acabei vendo a metade final, Ronald, e a dublagem não chegou a incomodar. Mas claro que o ideal é ver com legendas, sorte sua ter o DVD, acho que o filme ficou melhor com o tempo. Abraço!

Fabio Negro, não sou homossexual.

Anônimo disse...

Acho Cate Blanchett uma atriz
extremamente talentosa entre as
atrizes da atualidade. Quanto a Kate Beckinsale sua beleza classica ilumina nossos olhos, mesmo que não tenha demonstrado tanto talento até o momento.
Não podemos compara-las em talento e beleza com Katherine
Hepburn, apesar de eu nunca ter
grande admiração por ela. Nem
podemos comparar Kate com Ava
Gardner, considerada na época o
animal mais belo do mundo.
Por outro lado quem conhece o
trabalho de Martin Scorsese, e sua
equipe de atores que o acompanham
a muitos anos, sabe que ele jamais
faria filmes sobre homosexuais.
Pode até ser que venha a fazer
no futuro, mas eu duvido disso. Sidnei Costarelli.
animal mais b

Sergio Andrade disse...

Não gosto da Cate e da Kate no filme.

E se até o Clint já fez filmes sobre homossexuais, muito antes de J. Edgar ("Meia noite no jardim do bem e do mal", alguém?), por que não o Scorsese?

Jorge Ramiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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