21/07/2008

ALBERTO LATTUADA - PARTE 1

Sublime Recordação (La Freccia nel Fianco) – Necessita de revisão, pois vi faz uns 10 anos. Mas lembro que gostei bastante, uma história de amor com final trágico, dirigida com muita sensibilidade e com uma bela atriz, Mariella Lotti. As filmagens tiveram início no verão de 1943 e depois de várias interrupções foram abandonadas naquele mesmo ano por causa da guerra. A produção só foi retomada após a guerra, em 1945, tendo Mario Costa assumido a direção, mas quando foi lançada em setembro apenas Lattuada foi creditado como diretor. Cotação: ***

O Bandido (Il Bandito) - Embora realizado em 1946, no auge do movimento neo-realista, o filme se parece mais com os policiais americanos do mesmo período. Logo no começo Lattuada retrata, com pequenas pinceladas, o caos que foi o retorno dos soldados italianos para casa após a guerra. Da janela do vagão de um trem vindo da Alemanha e apinhado de gente Ernesto (Amedeo Nazzari) reconhece a paisagem da Itália, mas terá ainda um longo caminho a percorrer até chegar à sua cidade natal, Turim, apenas para descobrir que sua casa foi destruída pelas bombas aliadas, a mãe está morta e a irmã, Maria (Carla Del Poggio, esposa do diretor), tornou-se prostituta de bordel para sobreviver. Ao tentar tirá-la daquele local Ernesto entra em luta corporal com o cafetão da moça, que saca da pistola e atira, atingindo Maria mortalmente. Ernesto, cego de ódio, mata o cara e foge da polícia ingressando a partir daí no mundo do crime. Anna Magnani brilha como a amante do chefe da quadrilha que se apaixona por Ernesto mas num acesso de raiva depois de uma discussão o denuncia à polícia. O filme, porém, é dominado por Amedeo Nazzari (que é a cara do Leonardo Villar quando jovem). A ótima música é de Felice Lattuada, renomado compositor e pai de Alberto, que compôs a música de vários filmes do filho. C.: ****


Sem Piedade (Senza Pietà) – Outro que preciso rever. Trata de uma história de amor inter-racial entre uma jovem prostituta italiana (Del Poggio novamente) e um soldado negro americano (John Fitzmiller) no pós-guerra. Lembro que no final os dois eram perseguidos pela polícia, não sei mais porque motivo, tudo terminando do modo que sugere o título. Giulietta Masina também está no elenco, e Fellini foi um dos colaboradores no roteiro. C.: ***

O Delito (Il Delitto di Giovanni Episcopo) – Idem o anterior. Baseado no livro de Giovanne D’Annunzio. Começa de forma estupenda, com câmera subjetiva e narração em off. O que se segue é mais convencional, pelo que me lembro, sem deixar de ser interessante. C.: ***

O Moinho do Pó (Il Mulino del Po) – Visto na mesma época dos anteriores (com exceção de “O Bandido”), mas desse eu me lembro relativamente bem, tanto que continuo considerando a obra-prima do diretor (e por isso mesmo gostaria muito de rever). Também costuma ser vinculado ao neo-realismo, mas trata-se de um filme de época (e Lattuada afirmava que nunca fez parte do movimento). Gira em torno de um romance à la Romeu e Julieta tendo como pano de fundo a eclosão do movimento socialista na Itália do final do século XIX e a organização de uma greve de trabalhadores rurais contra os proprietários de terras que culmina num tenso confronto com o exército. A destacar ainda o excelente trabalho de montagem. Lembro que na época cheguei a comentar comigo mesmo que esse era o filme mais marxista que Luchino Visconti nunca realizou. C.: *****

Mulheres e Luzes (Luci del Varietà) – As agruras de uma companhia teatral itinerante. Difícil dizer quem fez o que aqui. O mais óbvio seria dizer que Fellini dirigiu as cenas das apresentações teatrais e Lattuada as mais intimistas, e cada um dirigiu as cenas com suas respectivas esposas. Seja como for é uma delícia de filme, uma declaração de amor ao teatro e seus artistas. A brasileira Vanja Orico tem uma pequena mas importante participação, inclusive cantando “Meu Limão, Meu Limoeiro” em português. Vanja foi descoberta enquanto assistia as filmagens na rua pela irmã de Alberto, Bianca, que trabalhava na produção e foi sua mais constante colaboradora. C.: ****

Anna – Melodrama clássico. Anna é uma dedicada freira que trabalha num hospital de Milão. Um dia a chegada de um homem ferido num acidente irá trazer lembranças de seu passado que condena (título no Brasil de outro filme do diretor). Em flashback ficamos sabendo que Anna, antes de ser freira, trabalhou num cabaré onde era amante do barman Vittorio (Vittorio Gassman), um mau-caráter, até que conheceu e se apaixonou pelo bom moço de família Andrea (Raf Vallone), que vem a ser o homem ferido no hospital, e ficaram noivos. Mas na véspera do casamento Vittorio reapareceu e aconteceu uma tragédia que influiu na vida de todos. Agora ela terá que escolher entre a vocação religiosa ou o homem que ama. Momento antológico: Silvana Mangano dançando e cantando o baião “El Negro Zumbon”, que pode ser visto no YouTube. C.: ****

O Capote (Il Cappotto) – Lattuada era um grande admirador da literatura russa, tendo adaptado alguns de seus maiores autores: Chekov, Pushkin, Bulgakov. Aqui ele adapta um conto de Gogol, transportando a ação da Rússia do séc. 19 para a Itália do começo dos anos 50 do séc. 20, dosando bem comédia e drama, crítica social e sátira política. Renato Rascel (excelente) é um escriturário da Prefeitura de Milão que sonha comprar um capote novo pois o que possui está caindo aos pedaços. Quando finalmente consegue realizar seu sonho tem o capote novo roubado. Acometido por uma pneumonia e por imensa tristeza acaba falecendo, mas seu espírito continuará vagando pela cidade à procura do ladrão, assustando os transeuntes. Grande filme. Alguns trechos. C.: *****

A Loba (La Lupa) – Lattuada formou-se em arquitetura, o que explica a importância do ambiente, o cuidado com a locação, os detalhes dos interiores em todos seus filmes. Em muitos casos a cidade onde se passa a ação torna-se mesmo um dos personagens. A cidade de Craco, localizada na região montanhosa da Basilicata, no sul da Itália, pode ser considerada a personagem principal. A arquitetura da cidade é mesmo impressionante, com suas casas de pedra incrustadas na montanha, num lugar onde a princípio seria quase impossível a presença humana. Pois é ai que vive essa mulher impetuosa, não por acaso apelidada pelos moradores de Loba (a argelina Kerima) com sua filha adolescente (a linda sueca May Britt). A chegada de um soldado (Ettore Manni) irá provocar a rivalidade entre mãe e filha (tema freqüente na obra do diretor). Outra de suas marcas registradas é o erotismo, e aqui ele transmite bem a tensão sexual desse triângulo amoroso, muito bem defendido pelos três atores. Drama de altíssima voltagem, baseado no livro de Giovanni Verga. C.: ****

O Amor na Cidade (L’Amore in Città) – Filme dividido em 6 episódios, assinados por gente como Carlo Lizzani, Dino Risi, Antonioni, Fellini, Francesco Maselli. Em seu episódio, intitulado “Os italianos se viram”, Lattuada deixa claro qual é sua parte preferida do corpo das mulheres. Os italianos se viram pra olhar as bundas das italianas. E Lattuada sempre foi generoso ao focalizar com sua câmera as belas bundas de suas lindas atrizes. C.: ****

Passado que Condena (La Spiaggia) – Outro que necessita revisão urgente. Até onde lembro: ***

Scuola Elementare – Aparentemente inédito nos cinemas brasileiros. Mudança de registro na obra do diretor, que abandona por um momento os dramas intensos para acompanhar o ano letivo de uma escola elementar de meninos em Milão, onde chega para dar aulas, vindo do Sul, o professor Dante Trilli. Seu amigo Pilade, inspetor de alunos da escola, o convida para morar em seu apartamento e ele aceita de bom grado. De modo terno e sensível Lattuada mostra a adaptação de Dante à cidade grande (numa cena ele passeia pelo telhado da Catedral de Milão); o convívio com os alunos, em especial com um deles, garoto problemático filho de mãe solteira e rejeitado pelos outros; seu interesse pela jovem professora Laura que sonha ser modelo fotográfica e a certa altura os dois amigos tentarão investir num negócio próprio. No final o professor Dante terá que escolher entre a independência financeira ou o ideal da profissão. C.: ***

A Tempestade (La Tempesta) – Lattuada mostrou-se à vontade na direção mesmo numa superprodução como esta, com atores internacionais (Van Heflin, Agnes Moorehead, Viveca Lindfors, Oskar Homolka), milhares de extras, roupas e objetos de época e cenas de batalhas (que lembram as de Alexander Nevsky), que Dino de Laurentiis produziu para sua esposa Silvana Mangano. Conta a revolta dos cossacos contra o reinado de Catarina, a Grande, que envia o exército para enfrentá-los. Trata-se da adaptação de uma novela de Alexander Pushkin, na qual Lattuada pôde exprimir sua visão humanista desse período difícil na Rússia.
C.: ****

A Noviça Proibida (Lettere di Una Novizia) – Preciso rever em melhores condições, pois apesar da boa qualidade a cópia que tive acesso é falada em francês sem legenda. Parece quase uma refilmagem de Anna, mas com uma noviça no lugar da freira. O começo é genial, mostrando o padre dando o sermão para um grupo de noviças fazendo seus votos. Enquanto cita Mateus X:34-36: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o filho e seu pai; entre a filha e sua mãe...” a câmera vai passeando pelos rostos das noviças até que se fixa numa delas (a adorável Pascale Petit) que vai ficando cada vez mais incomodada com as palavras do padre, até cair desmaiada. Segue-se um longo flashback (como em “Anna”) quando são revelados os motivos que a levaram a seguir a vida religiosa. E como em “A Loba” temos mais um caso de cumplicidade e rivalidade entre mãe e filha provocado pelo amor de um homem (Jean Paul Belmondo). Achei inferior a esses dois, mas sem dúvida merece uma revisão. C.: ***

2 comentários:

spring disse...

Alberto Lattuada é um dos maiores cineastas italianos, hoje bastante esquecido pelos cinéfilos, basta ver "O Capote" para vermos o seu génio. Excelente esta recordação do cineasta.
cumprimentos cinéfilos
Rui Luis Lima

Anônimo disse...

Com certeza, Rui. "O Capote" é mesmo genial, um filmaço. Obrigado pelo comentário. Abç

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