19/08/2007

DOIS JAPAS CULTS E DOIS CLÁSSICOS

O Pacto

O filme já começa de modo impactante, quando 54 adolescentes, todas garotas, se suicidam pulando da plataforma do metrô. Seguem-se vários outros suicídios em massa entre garotos e garotas, enquanto a polícia tenta desvendar o mistério. Quem estaria motivando esses atos? Uma seita de fanáticos? Um site na internet mostrando apenas bolas brancas, que ficam vermelhas quando acontece mais um suicídio? E o que um grupo musical infantil tem a ver com isso tudo?
O diretor Sion Sono parece querer dizer que todos tem sua parcela de culpa: as seitas que proliferam em toda parte, a alta tecnologia substituindo o afeto entre pais e filhos, as mensagens subliminares de grupos infantis lançados pelas gravadoras com olhos voltados apenas para o lucro fácil. Nesse sentido lembra um pouco Pulse, de Kiyoshi Kurosawa, só que com muito mais sangue. Mas sua mensagem é eficaz.

Morrer ou Viver

Os primeiros 5 minutos são delirantes, com uma montagem acelerada mesclando cenas violentas com outras sensuais ao som de um rock pesado. Sem dúvida estamos diante de um filme de Takashi Miike.
Mas depois desse início frenético o filme segue numa narrativa clássica, tirando um ou outro momento de bizarrice, pelos próximos 95 minutos.
Gira em torno de uma guerra de gangues, entre a yakuza e a máfia chinesa do Japão. Os conflitos são até folhetinescos, contrapondo um policial honesto, mas que aceita dinheiro da máfia para pagar a operação da filha, ao bandido frio mas de bom coração, tanto que pagou os estudos do irmão nos EUA. Tudo caminharia para um epílogo previsível, com os dois se enfrentando no final, mas ai a coisa muda totalmente de figura. Os minutos finais são dos mais desconcertantes já vistos, com direito a referências aos mangás e a filmes de ficção científica! Uma doideira sem tamanho!!!
Atenção: está para ser lançado “Matar ou Morrer 2”, mas parece que a trama não tem nada a ver com este.

Cão Danado

Akira Kurosawa sempre foi acusado, no Japão, de ser “ocidentalizado”, pelo fato de ter sido influenciado por filmes americanos, como no caso deste, que lembra os “film noir” tipo 13 Rua Madeleine, A Casa da Rua 92, Cidade Nua e outros.
Filmado boa parte nas ruas de Tóquio, o que lhe confere maior autenticidade, mostra o drama do detetive Murakami, que tem sua arma roubada num ônibus lotado e precisa se infiltrar no submundo para recuperá-la. Enquanto isso o ladrão comete uma série de crimes, inclusive assassinato, provocando uma crise de consciência no detetive. Kurosawa mostra as mudanças de costumes que ocorreram no país no imediato pós-guerra através de pinceladas precisas. Um país que sofre uma rápida mudança em suas tradições seculares e mergulha no cinismo, na contravenção, na sobrevivência a qualquer custo. Ocidentalizado? Só para mentes obtusas! O tema mais importante para ele é a ética que alguns insistem em manter, impedindo que afundemos na barbárie.
Um filme repleto de cenas antológicas, como a briga no meio do mato, no final. No elenco dois dos atores preferidos do diretor, Toshiro Mifune e Takashi Shimura, ambos geniais.

A Princesa Yang Kwei Fei
E chegamos a outro grande mestre japonês, Kenji Mizoguchi.
Elaborados planos-sequências, delicados movimentos de câmera, a situação da mulher na sociedade oriental, cenários suntuosos e um colorido esplendoroso. Tudo isso, e muito mais, pode ser admirado neste drama ambientado na China medieval, quando o Imperador viúvo faz de uma simplória cozinheira sua preferida na corte, gerando uma série de conflitos políticos e intrigas palacianas.
Impossível descrever com palavras o impacto visual dessa obra-prima, ao mesmo tempo delicada e brutal. Quem interpreta a Princesa é Machiko Kyo, uma das mais belas e talentosas atrizes do Japão.

Agradeço ao amigo
Moacy Cirne pela belíssima cópia. E ele me presenteou também com um exemplar do seu livro “Luzes, Sombras e Magia: os filmes que fazem a história do cinema”, que comentarei em breve. Muito grato, meu caro!

10 comentários:

Moacy Cirne disse...

Puxa, cara, que bom que a cópia do filme de Mizoguchi ficou legal, e que bom que você também o considerou uma obra-prima. Cada vez gosto mais do autor de "Contos da lua vaga". Não conheço os dois primeiros filmes, e vi o de Kurosawa há muito tempo. Precisaria revê-lo. Por falar em revisão, é impressionante como as revisões de determinadas películas se fazem sempre necessárias. No espaço de apenas dois anos, por exemplo, a revisão de vários títulos e o conhecimento de alguns outros - como o próprio filme de Mizoguchi comentado aqui - me faz modificar, em pelo menos 15%, a seleção de obras essenciais que se encontra no livro que lhe presenteei. Um grande abraço.

Anônimo disse...

A cópia ficou ótima, Moacy, e o filme é maravilhoso, obra-prima mesmo!
Os 2 primeiros estão disponíveis em DVD, assim como o do Kurosawa que comprei por R$10,00!
E minha lista de melhores também vive em constante mutação hehehe!
Abraço.

Ronald Perrone disse...

Beleza de post!
Não assisti nenhum dos filmes, mas conhecia os três primeiros... o ultimo, apesar de não conhecer, é do Mizoguchi, então, entra na lista!
Abraços!

Anônimo disse...

Obrigado, Ronald!
Procure assistir os 4 filmes.
Os 2 primeiros provam que o cinema nipônico, depois de ter ficado meio que eclipsado pelos coreanos, está retornando ao topo.
E Kurosawa e Mizoguchi...Meu Deus! Vão ser geniais assim lá no Japão!!! hehehe.
Abraços!

Anônimo disse...

Só krássico! Cada um em seu tempo. Adoro todos!!! Falando nisso, tá passando uma mostra do Mizô e do Ozu no Centro Cultural Vergueiro.

Anônimo disse...

É mesmo, Bakemon, 4 grandes filmes!
E muito bem lembrado, esta é a última semana para conferir essa mostra Mizoguchi/Ozu no CCSP. Vou tentar ver (ou rever) alguma coisa. Valeu pelo toque, Bake :)
Abraço!

Lovely69 disse...

amei as resenhas e fiquei curiosa pra ver o "suicide club" e "a princesa yang fei". "o cão danado" eu já vi e gostei muito, mifune é mito!

Anônimo disse...

Mara, acho que vc vai gostar do "Suicide Club". A cópia do "Princesa...", segundo o Moacy, foi baixada da internet e está impecável!
E Cão Danado é maravilhoso mesmo. Beijo!

Anônimo disse...

Que post lindo, hein? Adorei! Assim como a Mara, fiquei curiosíssima com relação a Suicide Club. Verdade que o Princesa foi no download? Com legendas em inglês ou português?
Eita, Sergio, acabei de lembrar qe tô te devendo o filme! Desculpa, viu? É que estive mergulhada numa doideira de trabalho e cortes de pessoal que vc nem imagina. Um beijo!

Anônimo disse...

Graciele, Suicide Club acaba de ser lançado em DVD como O Pacto.
O Princesa está com legendas em espanhol, muito fácil de acompanhar.
Quanto ao filme, sem problemas. Também estou com serviço até o pescoço. Beijo!

Pesquisa do Blog