15/10/2006

27ª BIENAL: VÍDEOS E FILMES

Aproveitei o feriado de quinta-feira para visitar a 27ª Bienal de São Paulo, no Pavilhão do Ibirapuera.

Este ano, com curadoria de Lisette Lagnado, o título da mostra é “Como viver junto”, que foi como se chamou o seminário realizado por Roland Barthes no Collège de France, entre 1976 e 1977.
Haveria muita coisa a ser comentada, mas como este é um blog de cinema, ou como dizem alguns monotemático, irei me limitar a alguns vídeos e filmes que estão sendo exibidos lá.

O mineiro Marcellvs L. apresenta no piso térreo dois vídeos, projetados simultaneamente, que mostram um barco abandonado na areia de uma praia baiana. Na sala escura, com o som de ondas e uma câmera que faz pequenos movimentos, temos a impressão de estarmos navegando nesse barco.
No segundo pavimento são exibidos mais 3 vídeos. Com a câmera estática, colocada a uma longa distância, ele mostra uma pessoa caminhando pelo acostamento de uma estrada movimentada. Mas o melhor deles é “Man.Road.River”, que eu já conhecia do Festival de Curtas do ano passado, que acompanha, sempre em tempo real e câmera parada, um sujeito atravessando um rio que corta uma estrada. Acompanhamos com angústia ele ir entrando no rio até quase ser coberto pelas águas, mas saindo de forma triunfante.

No terceiro pavimento encontra-se a obra da cubana Ana Mendieta, enviada pelos pais aos USA após a Revolução Cubana. Seus trabalhos consistem em imagens de sua silhueta em diversos tipos de terreno. Em um dos filmes ela se deita nua sobre a silhueta, em outro as chamas tomam conta da silhueta, em imagens que transmitem a idéia de uma pessoa dividida entre 2 culturas.
A artista foi assassinada pelo marido em 1985, aos 36 anos.

O melhor de tudo deixei para o final. São as obras do americano Gordon Matta-Clark, que consiste de vídeos, fotografias, objetos e filmes, também no terceiro pavimento.
Um dos trabalhos, Garbage Wall, é a recriação de uma obra do artista, que consiste de um muro construído com objetos encontrados no lixo.

Mas o mais genial são seus filmes, entre os quais Clockshower, onde Matta-Clark, tal qual Harold Lloyd, pendura-se no relógio do prédio Clocktower em New York e, numa tomada sem cortes, faz a barba, toma banho e escova os dentes. Uma obra que remete à primitiva luta do homem contra o tempo.
O que mais me emocionou é que são filmes mesmo, projetados na parede da Bienal. O olhar de fascínio das pessoas observando o funcionamento do barulhento projetor de 16 mm é algo de arrepiar. Fiquei me perguntando: será que a película sobreviverá na época do digital, ou estará fadada a ser um fascinante objeto de museu?


P.S.: O blog ficará sem atualização durante alguns dias, provavelmente até o final do mês. Durante esse período também decidirei se continuo ou paro de vez com o blog. Até!



26 comentários:

Anônimo disse...

Sérgio.

Ser um blog de cinema não impede que você percorra por outras artes. Pensar o cinema como a integração de várias linguagens pode ser interessante e bastante revelador. Bacana o panorama sobre as intalações, obras e objetos mais vinculados ao cinema, o que demonstra bastante a tal integração, manipulação e reconstrução por parte dos filmes de outras formas de expressão. Nem pense em parar, caso contrário eu mando a SS atrás de você (ehehe). Faça o seguinte: só escreva então quando achar necessário. Eu até entendo que muitas vezes ficamos forçando posts (o que não é o seu caso) para forçar uma certa periodicidade cada vez mais diária. Abraço.

Ailton Monteiro disse...

O que é isso, Sergio? O Kino Crazy já é visita obrigatória pra mim. Todos os dias eu passo por aqui. Se vc parar, com certeza vai fazer muita falta. Não faça isso com seus fãs.

Bruno Amato disse...

NÃO PARE.

É uma ordem, hehe.

Michel Simões disse...

Pode tirando essa idéia estapafurdia da cabeça Sergio!!! rs

Anônimo disse...

Pô Serjão ! Agora que estou frequentando esse blog você resolve dar uma de Aguilar ! O que é isso ? Como disse o Ailton, não faça isso com os seus fãs.

Anônimo disse...

ih, hehe, pára não. eu não sei se vou ver a bienal, ainda estou pensando. obrigada por elogiar o meu texto. beijos, pedrita

Anônimo disse...

MARCOS, AILTON, BRUNO, MICHEL, MATHEUS, PEDRITA E PIERROT LUNAIRE - Obrigado a todos pelas palavras e pelos incentivos (e intimações hehehe!) para que eu continue com o blog.
O problema é que está cada vez mais difícil conciliar o dever profissional c/ o prazer que o blog me proporciona. Tempo, sempre o tempo, ou a falta dele...
Por outro lado a obrigação de ter que manter o blog atualizado, algo mencionado pelo Marcos, tem me deixado muito insatisfeito.
Claro que eu posso seguir o exemplo do Aguilar e postar apenas quando tiver vontade ou algo importante para comentar, mas me pergunto se dai o blog não perde sua própria função de ser.
De qualquer modo irei pensar no assunto com bastante carinho durante esses dias, e anunciarei minha decisão aqui.
E Matheus, pode ficar tranquilo que continuarei colaborando c/ a Zingu :)
Muito obrigado mesmo a todos vcs pelos comentários!
Grande abraço!!! :)

Anônimo disse...

Bom, muita gente já mandou a sua força e já li a sua resposta! Mas eu me sinto obrigado a fazer a mesma coisa: Não Pare com o Blogue!!!!

Anônimo disse...

RONALD - Valeu meu caro! Muito obrigado pela força mesmo. Abraço!

urina disse...

Sérgio, você viu algo do Ivan Cardoso na Bienal? Anunciaram que entrariam alguns vídeos experimentais dele e do Julio Bressane (e o que dele não é experimental deles?), só que do Bressane só incluiram uma sessão de Matou A Família... no Segall, fiquei interessado tanto por suas informações quanto pelo Ivan Cardoso que gostaria de implantar na mente!
Sérgio, eu sei como é horrível ficar sem tempo disponível para postar, dá uma frustação, só que o conteúdo que você traz em cada postagem é indiscutível e necessário, sempre gostei dos seus textos, se cair a freqüência de postagens você pode contar com a minha visita fiel ao blog, agora para repetir um pouco: "Tenta não parar!" Grande abraço!

Anônimo disse...

Você SIMPLESMENTE não pode parar com o seu blogue, cara. Seria lamentável e todos nós perderíamos com a sua decisão. Pense bem no assunto. Um abraço.

Anônimo disse...

URINA - Eu não disse que havia muita coisa para ser comentada? E eu acabei esquecendo justamente do Ivan :(
Tem filme dele na Bienal, sim!!! É o H.O. sobre Hélio Oiticica, excelente. E o do Bressane passou só nessa mostra paralela no Segall, mesmo.
Muito obrigado, Urina, pela audiência e pela fidelidade hehehe!

MOACY - Obrigado, meu caro, pela intimação hehe! :) Pode deixar que vou pensar bem no assunto!

Abraços!!!

Andrea Ormond disse...

Oi Sergio! alguns desses filmes que vc dissecou me lembraram "Limite", vc não achou? O tempo, as águas, o conflito. Fiquei curiosa tb de ver o do Matta-Clark, na linha do Harold Lloyd. E volta logo, Sergio, não dá pra ficar sem o Kinocrazy não, ele vicia :) Um beijo!

Anônimo disse...

Andréa, como sempre vc é precisa em seus comentários. Só agora eu percebi que eles tem tudo a ver com Limite, mesmo!!!
Os do Matta-Clark é fácil, é só vir aqui pra Sampa :)
Muito grato por suas palavras, Andréa, mas o que vicia mesmo é o Estranho Encontro :)
Beijo!

Anônimo disse...

Iiiiihhh, agora virou moda ameaçar fechar o blog, é? Deixa dilson, meu!

Anônimo disse...

MILTON - Não sei se existe tal moda. De minha parte não se trata de uma "ameaça" (!!!???) mas de uma possibilidade concreta.

Anônimo disse...

Bem, eu não havia lido o p.s., mas certamente não posso me opor a. qq. decisão do tipo, seria um tremendo paradoxo -hehehe - mas de q. forma, me junto a querida Andréa, e se serve de consolo e/ou motivação, vc. ganha um doce se souber qual é o 1.º blog q. costumo abrir?

Anônimo disse...

EDUARDO - Obrigado pelas palavras, claro que elas servem de motivação! Mas veja só, ainda não consegui ver sequer 1 filme da Mostra.
Quero aproveitar p/ dizer que pela falta de tempo, mas tb para evitar que digam que dou preferência para A ou B, não estou deixando comentários nos blogues dos amigos. Fiquei morrendo de inveja (hehehe) pelos filmes que vc viu na Mostra, principalmente os italianos, em especial aquele do Montaldo, pelo que vc disse deve ser excepcional, mas não sei se vou conseguir assistir.
Muito obrigado mesmo pelo comentário, Edú! Grande abraço!!!

Anônimo disse...

Ai, ai, ai...fico uns dias sem aparecer (estive em férias, viajando) e fui punida com essa sua vontade de acabar com o blog? Se eu soubesse nem teria viajado, viu! :-P

Querido amigo! Prefiro que vc não pare, mas se vc está se sentindo desconfortável com a situação tempo X atualização entenderei - e LAMENTAREI MUITO - sua decisão de parar.
Bjos

Anônimo disse...

GRACIELE - Vc disse duas palavras mágicas: férias e viagem hehe! Que inveja! É tudo o que eu estava precisando.

A situação está complicada mesmo, viu, mas em breve anunciarei minha decisão, que ainda não está tomada, diga-se de passagem.
Obrigado, Graciele, pelas palavras sempre carinhosas.
Bjs :)

Anônimo disse...

Fiquei tão 'mexida' com a história do fim do blog que acabei esquecendo de elogiar o belíssimo post, que me fez repensar minha precipitada decisão de não ir à Bienal.
Obrigada, caríssimo, pelas excelentes dicas! Bjão!

Anônimo disse...

Graciele, espero que vc já esteja recuperada do choque hehehe!

Vá na Bienal, sim, tenho certeza que se sensibilizará c/ as fotos e filmes da Ana Mendieta.
Veja tb as obras do Matta-Clark, do Marcellvs L., do Marcel Broodthaers e do Oiticica c/filme do Ivan Cardoso, entre outras.

Beijão! :)

Anônimo disse...

Séeeeeeeeeeergiooooo???????????????????? Ondes estás?

Anônimo disse...

BAKEMON - Estou aqui!!! :)
Eu ainda existo hehehe!

Anônimo disse...

Oi, cara, enquanto você não atualiza (no geral, concordo com as palavras de Marcos Felipe), passo por aqui para rever uma ou outra postagem. Enquanto isso, aproveito para informar que selecionei, no Balaio de hoje, os meus 50 filmes preferidos dos anos 50. E já que o meu tricolor só me faz ficar cada vez mais desesperado (a segundona parece-me inevitável), pelo menos o seu tricolor está cada veza mais perto do título, para sua justificada aslegria. Abração.

Anônimo disse...

Oi, Moacy! Legal, logo vou conferir sua lista. A década de 50 é rica em obras-primas de Wilder, Aldrich, Antonioni, Bergman, Kurosawa, Ozu, Buñuel da fase mexicana...
Qto a tricolor carioca, apesar dos dirigentes estarem fazendo de tudo para que o Flu volte para a segundona creio que isso não acontecerá.
O meu tricolor está perto, é verdade, mas é bom conter a euforia, amanhã teremos um jogo duríssimo. O Muricy tem que conter os jogadores para não comemorarem antes do tempo.
No mais, obrigado pela visita e pelo comentário. Abçs!

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