Manderlay é a segunda parte da trilogia de Lars Von Trier sobre os Estados Unidos intitulada "USA - Terra das Oportunidades". A primeira parte, o tão celebrado Dogville, eu simplesmente detestei! Aquele não é um filme contra os Estados Unidos, ou contra a América de Bush, mas sim contra todo o povo americano. Lançado durante a Guerra do Iraque, logicamente conseguiu apoio (quase) unânime. Qual a solução que Lars propunha para os EUA? O extermínio total, a terra arrasada, varrê-lo do mapa. Quando vi que nem um bebê era poupado do massacre final, quase vomitei no cinema! Dogville era o filminho de terror dele, tão óbvio que a rua principal da cidade chamava-se Elm (alguém lembrou de Freddy Krueger?)!
Outra coisa que me revoltou foi o tratamento dado à Nicole Kidman. O cineasta dinamarquês, provavelmente admirado por ter como protagonista uma estrela hollywoodiana ganhadora do Oscar, quis fazer dela sua Falconetti, obrigando-a passar pelas situações mais constrangedoras. No entanto ele se esqueceu de uma coisa: nunca chegará a ser um novo Dreyer.
Sempre o considerei um diretor supervalorizado, desde sua estréia no longa com O Elemento do Crime. Mas adoro Ondas do Destino, que inclusive é um dos filmes da minha vida, mas estou desconfiado que seu sucesso deveu-se mais à excepcional interpretação de Emily Watson. Estou exagerando, claro! Aquela movimentação da câmera, as passagens entre as cenas quando são tocadas algumas das canções mais lindas já feitas, só poderia ter saido da mente do diretor. Breaking the Waves é o belo fruto de uma união perfeita entre um diretor inspirado e uma atriz em estado de graça.
Toda essa longa introdução para dizer que também odiei Manderlay, certo? Errado! Aqui a proposta é mais ambígua para que se possa descartá-lo de imediato.
Começa com um grande mapa dos EUA, onde a câmera irá se aproximando até que possamos visualizar os carros dos gângsteres que chegam ao estado do Alabama. Eles param em frente à uma "plantation", no momento em que um negro está para ser chicoteado. Grace (agora Bryce Dallas Howard) descobrirá horrorizada que ali, nos anos 30 do século 20, ainda existe escravidão.Ela intervem, e fica sabendo que a proprietária administra o local seguindo as regras do Livro da Senhora, que impõem uma série de deveres aos escravos, como a proibição da circulação de dinheiro na fazenda.
O tal livro também os classifica segundo estereótipos: o bufão, a adaptável, o orgulhoso, etc. Com a morte da proprietária, Grace resolve ficar mais um tempo na fazenda, junto com alguns gângsteres, para dar aulas de democracia e liberdade àquelas pobres almas. Ela observa comovida eles se juntarem, todos os dias e à mesma hora, num canto do casarão, um daqueles deveres. Triste por ver as goteiras nos casebres, sugere que cortem as árvores localizadas num jardim para consertar os tetos. Essa decisão se revelará totalmente equivocada com a chegada de uma tempestade de areia. Aliás, todas as decisões dela se mostrarão equivocadas. Como um estrangeiro num país desconhecido, ela é incapaz de perceber as regras de sobrevivência que regem a fazenda. Aqueles estereótipos ao final se evaporarão, pois como se pode classificar um ser humano com apenas uma palavra?
Aqui Von Trier consegue com sucesso tanto fazer uma alegoria sobre a política intervencionista americana, quanto mostrar que a questão do racismo ainda não foi resolvida na América. A recente tragédia do furacão Katrina mostrou que o problema está longe de ser solucionado. Os profundos cortes provocados pelos chicotes ainda não cicatrizaram. Os créditos finais, novamente ao som de Young Americans de David Bowie, mostram entre outras fotos de impacto, uma impressionante de um velho com as costas deformadas pelas chicotadas.
O elenco todo é excelente, em especial os atores negros, com destaque para Danny Glover, um grande batalhador pelos direitos civis dos negros nos EUA, e Isaach De Bankolé, o mesmo na França. Esses dois nunca entrariam num projeto que ao menos insinuasse uma idéia racista.
Mas o grande destaque é Bryce, que mesmo não sendo tão bonita quanto Nicole demonstra que poderá vir a ser até melhor atriz. Ela consegue transmitir, com o olhar ou com a inflexão de voz, todos os sentimentos da personagem: indignação, ódio, ternura, alegria, tristeza, sensualidade, desejo, infantilidade.
Outra coisa que me revoltou foi o tratamento dado à Nicole Kidman. O cineasta dinamarquês, provavelmente admirado por ter como protagonista uma estrela hollywoodiana ganhadora do Oscar, quis fazer dela sua Falconetti, obrigando-a passar pelas situações mais constrangedoras. No entanto ele se esqueceu de uma coisa: nunca chegará a ser um novo Dreyer.
Sempre o considerei um diretor supervalorizado, desde sua estréia no longa com O Elemento do Crime. Mas adoro Ondas do Destino, que inclusive é um dos filmes da minha vida, mas estou desconfiado que seu sucesso deveu-se mais à excepcional interpretação de Emily Watson. Estou exagerando, claro! Aquela movimentação da câmera, as passagens entre as cenas quando são tocadas algumas das canções mais lindas já feitas, só poderia ter saido da mente do diretor. Breaking the Waves é o belo fruto de uma união perfeita entre um diretor inspirado e uma atriz em estado de graça.
Toda essa longa introdução para dizer que também odiei Manderlay, certo? Errado! Aqui a proposta é mais ambígua para que se possa descartá-lo de imediato.
Começa com um grande mapa dos EUA, onde a câmera irá se aproximando até que possamos visualizar os carros dos gângsteres que chegam ao estado do Alabama. Eles param em frente à uma "plantation", no momento em que um negro está para ser chicoteado. Grace (agora Bryce Dallas Howard) descobrirá horrorizada que ali, nos anos 30 do século 20, ainda existe escravidão.Ela intervem, e fica sabendo que a proprietária administra o local seguindo as regras do Livro da Senhora, que impõem uma série de deveres aos escravos, como a proibição da circulação de dinheiro na fazenda.
O tal livro também os classifica segundo estereótipos: o bufão, a adaptável, o orgulhoso, etc. Com a morte da proprietária, Grace resolve ficar mais um tempo na fazenda, junto com alguns gângsteres, para dar aulas de democracia e liberdade àquelas pobres almas. Ela observa comovida eles se juntarem, todos os dias e à mesma hora, num canto do casarão, um daqueles deveres. Triste por ver as goteiras nos casebres, sugere que cortem as árvores localizadas num jardim para consertar os tetos. Essa decisão se revelará totalmente equivocada com a chegada de uma tempestade de areia. Aliás, todas as decisões dela se mostrarão equivocadas. Como um estrangeiro num país desconhecido, ela é incapaz de perceber as regras de sobrevivência que regem a fazenda. Aqueles estereótipos ao final se evaporarão, pois como se pode classificar um ser humano com apenas uma palavra?
Aqui Von Trier consegue com sucesso tanto fazer uma alegoria sobre a política intervencionista americana, quanto mostrar que a questão do racismo ainda não foi resolvida na América. A recente tragédia do furacão Katrina mostrou que o problema está longe de ser solucionado. Os profundos cortes provocados pelos chicotes ainda não cicatrizaram. Os créditos finais, novamente ao som de Young Americans de David Bowie, mostram entre outras fotos de impacto, uma impressionante de um velho com as costas deformadas pelas chicotadas.
O elenco todo é excelente, em especial os atores negros, com destaque para Danny Glover, um grande batalhador pelos direitos civis dos negros nos EUA, e Isaach De Bankolé, o mesmo na França. Esses dois nunca entrariam num projeto que ao menos insinuasse uma idéia racista.
Mas o grande destaque é Bryce, que mesmo não sendo tão bonita quanto Nicole demonstra que poderá vir a ser até melhor atriz. Ela consegue transmitir, com o olhar ou com a inflexão de voz, todos os sentimentos da personagem: indignação, ódio, ternura, alegria, tristeza, sensualidade, desejo, infantilidade.
Agora é esperar para ver o que o talentoso marqueteiro nos reserva na conclusão da trilogia. A estréia de Wasington (mais uma brincadeirinha do diretor) está prevista para 2007.
7 comentários:
Pois é, Sérgio.... eu também acho o Von Trier um tanto estrela, e alguns de seus filmes são mesmo supervalorizados, como DANCER IN THE DARK, que eu acho bem chato. Ainda bem que essa trilogia vai terminar, só quero saber que rumo o trabalho dele vai tomar depois disso, pois DOGVILLE, de certa forma, mesmo com todo o marketing envolvido, tem lá sua originalidade não somente pelo formato proposto, mas também pela forma crua de mostrar as agruras da América. MANDERLAY me cansou um pouco, mas as críticas feitas ao racismo naquela país foram bem óbvias. E agora, qual será o assunto? vamos ver, um grande abraço!
Fala, Fernando! Olha, para ser sincero, nem mesmo aquele formato que tantos adoraram em Dogville me impressionou. Já Manderlay é um filme que tem crescido em meu conceito cada vez que lembro dele. A abordagem sobre o racismo é muito pertinente.
Vamos aguardar para ver como Lars fechará essa trilogia. Se ele manter a Bryce no elenco será um ponto em seu favor, pois ela é ótima! Abração!!
Eu acho a Bryce melhor atriz que a Nicole. Bryce tem um frescor e um despojamento que Nicole não tem, ela age, independente do papel, como atriz hollywoodiana.
Concordo absolutamente: Breaking the waves é o resultado de uma bela união entre diretor e atriz. Mas não dá para esquecer Stelan Skarsgard, nesse filme, tb...
Assim como vc, Sergio, torço para que Bryce feche a trilogia. Beijão! Adorei o texto!
também adoro ondas do destino, mas acho que o filme realmente superestimado dele (e um dos de todos os tempos) é dançando no escuro... argh!
Graciele, concordo que a Bryce é ótima, mas não ouso dizer ainda que ela seja melhor que a Nicole. Vamos ver como ela vai direcionar sua carreira a partir de agora que está ficando famosa.
E não se pode esquecer do Stellan mesmo. Nesse caso seria o resultado de um triângulo amoroso...hehehe! Beijão!
André, Dançando no Escuro é um dos filmes mais chatos já feitos. E Björk é a pior atriz (???!!!) de todos os tempos!
Ondas do Destino foi o meu primeiro Lars von Trier e o que me faz gostar bastante do diretor. Gosto muito pouco de Os Idiotas (feito pra vender um movimento), um pouco mais de Dançando no Escuro (apesar da obviedade da câmera) e muito pouco de Dogville (argh...). Tomara que goste do segundo da Trilogia contra os EUA; contra porque esse aspecto de ser contra, em Dançando no Escuro, era espontâneo e não tão óbvio.
Marcos, finalmente hein!!! Tomara que agora não dê mais problema. Que bom que você não gosta de Dogville, pensava ser a única pessoa no mundo a não gostar do filme hehe! Espero que você veja logo Manderlay para podermos comentar melhor. Abração!!!
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