Em 1957, dez anos após ter estreado como ator e se tornado o maior galã do cinema brasileiro, primeiro nas chanchadas da Atlântida e depois nos dramas da Vera Cruz, Anselmo Duarte realizaria seu maior desejo: dirigir um filme, com roteiro e argumento também dele, baseado numa idéia original de J. Miguel e Jorge Dória.
Absolutamente Certo! (assim
mesmo, com ponto de exclamação) se passa nos primórdios da televisão no Brasil,
quando quem tinha uma TV cobrava dos vizinhos para assistirem programas como
esse que dá título ao filme, onde as pessoas respondiam perguntas sobre
determinado assunto na busca do prêmio de um milhão de cruzeiros. Anselmo é Zé
do Lino, morador de um bairro periférico de São Paulo que namora há 10 anos sua
vizinha Gina (Maria Dilnah), filha de Dona Bela (Dercy Gonçalves), uma das
poucas proprietárias de um aparelho de TV no local. Zé vem adiando o casamento
devido ao baixo salário que recebe e por ter que cuidar do pai, que está
inválido. Como o apelido diz, Zé trabalha como linotipista numa gráfica
responsável pela lista telefônica da cidade, e ele acabou decorando a lista
inteira: nome do assinante, telefone e endereço. Seus amigos o incentivam a
participar do programa, no qual acaba entrando com a ajuda do filho do dono da
gráfica, Raul (Aurélio Teixeira), que na verdade comanda uma quadrilha
especializada em apostas ilegais e pretende ganhar um bom dinheiro fazendo com
que Zé erre a última pergunta.
Nesta sua estréia na direção
percebe-se claramente a influência de seu mestre, Watson Macedo, principalmente
na inclusão dos números musicais. Alguns deles são bem encenados, mas outros
envelheceram mal. Os melhores são “Agora é Cinza”, com o Trio Irakitan, “Jura”,
com Dercy e “Quando eu Digo”, com Odete Lara (e aquelas coxas maravilhosas!).
Embora a trama possa parecer
bastante ingênua hoje em dia, ela é conduzida de forma bem envolvente,
agradável, pelo diretor, que tira o melhor dos seus atores (Dercy, por exemplo,
tem uma de suas melhores interpretações daquele período). No elenco encontram-se
também os nomes de José Policena (pai do Zé), Luiz Orioni (apresentador do
programa), Fregolente (dono da gráfica), Edson França (amigo da gráfica), Jayme
Barcellos, um bem jovem Mário Benvenutti e Valentino Guzzo (para sempre Vovó
Mafalda), além das participações dos locutores Pedro Luiz e Nelson de Oliveira,
do campeão de boxe Paulo de Jesus e do saxofonista Booker Pittman.
Na equipe técnica ele se cercou
do que havia de melhor no país, a maioria vinda da Vera Cruz: música de Enrico
Simonetti; fotografia de Chick Fowle; operação de câmera de Geraldo Gabriel;
montagem de José Cañizares; direção de arte de Pierino Massenzi; produção
executiva de Fernando de Barros; assistência de direção de Glauco Mirko
Laurelli; engenheiros de som Bosdan Kostiw, Ernst Hack e Ernst Magassi. Como
produtor o grande Oswaldo Massaini, da Cinedistri.
Mas o maior atrativo de assistir
Absolutamente Certo! hoje é a nostalgia de ver como era a televisão daqueles
tempos. Ver Anselmo e Odete andando de romiseta. Ver a vida na periferia, com o
quebra-pau entre os vizinhos na rua. Ver, principalmente, como era a cidade nos
anos 50. Numa cena o carro onde estão Raul e Zé do Lino atravessa o “Buraco do
Ademar” e passa por baixo do Viaduto Santa Ifigênia, e logo depois Zé e Gina
pegam um bonde andando. Uma delícia!
Anselmo Duarte, com
personalidade, mostrou que tinha talento como cineasta e estava pronto para um
vôo bem maior.
Publicado originalmente na revista Zingu! n° 38.
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