Quase centenário (nasceu em 1908), Manoel de Oliveira continua comprovando que é o mais jovem cineasta em atividade no momento. Qual outro diretor demonstra tal vitalidade criativa?
Aqui temos a história de um presidiário, Luciano (Ricardo Trêpa, neto do diretor, que é a cara do Tom Cruise!), que após sair da prisão vai trabalhar como motorista na mansão de Alfreda (Leonor Silveira), uma burguesa que tem como amigos padres e professores.
Um desses amigos, o professor Heschel (Michel Piccoli), afirma que os evangelhos apócrifos revelam que a Virgem Maria seria uma mulher rica.
Alfreda então, numa conversa com Luciano, confessa seu maior desejo na vida: que a Santa aparecesse para ela.
É então que acontece um momento mágico, quando Luciano tira um fio de linha preso no roupão dela, e acompanhamos a queda desse fio até o chão, em câmera lenta. Essa cena provoca quase uma ruptura na narrativa.
Começa então a segunda parte, quando entra em cena um novo personagem, o "Falsário", que irá bolar um plano para enganar Alfreda, contratando uma moça para se fazer passar pela Virgem Maria. Mas as coisas acabarão tomando um outro rumo.
Poderia-se pensar que um artista na idade de Oliveira só citaria a si mesmo, mas não é o que acontece. Ele reverencia seus mestres, como Dreyer (as pessoas conversam sem nunca se olharem) e Buñuel (as discussões sobre teologia num ambiente burguês), sem deixar de ser totalmente autoral.
E tem todos aqueles espelhos, refletindo a artificialidade daquele ambiente e o passado, as vaidades, desejos, sonhos, ambições e vacuidades dos que nele habitam.
Cotação: ****
Aqui temos a história de um presidiário, Luciano (Ricardo Trêpa, neto do diretor, que é a cara do Tom Cruise!), que após sair da prisão vai trabalhar como motorista na mansão de Alfreda (Leonor Silveira), uma burguesa que tem como amigos padres e professores.
Um desses amigos, o professor Heschel (Michel Piccoli), afirma que os evangelhos apócrifos revelam que a Virgem Maria seria uma mulher rica.
Alfreda então, numa conversa com Luciano, confessa seu maior desejo na vida: que a Santa aparecesse para ela.
É então que acontece um momento mágico, quando Luciano tira um fio de linha preso no roupão dela, e acompanhamos a queda desse fio até o chão, em câmera lenta. Essa cena provoca quase uma ruptura na narrativa.
Começa então a segunda parte, quando entra em cena um novo personagem, o "Falsário", que irá bolar um plano para enganar Alfreda, contratando uma moça para se fazer passar pela Virgem Maria. Mas as coisas acabarão tomando um outro rumo.
Poderia-se pensar que um artista na idade de Oliveira só citaria a si mesmo, mas não é o que acontece. Ele reverencia seus mestres, como Dreyer (as pessoas conversam sem nunca se olharem) e Buñuel (as discussões sobre teologia num ambiente burguês), sem deixar de ser totalmente autoral.
E tem todos aqueles espelhos, refletindo a artificialidade daquele ambiente e o passado, as vaidades, desejos, sonhos, ambições e vacuidades dos que nele habitam.
Cotação: ****
20 comentários:
Já havia me programado para ver o filme nessa quarta e seu Post só me deixou mais curioso para conferir esse trabalho genial do Mestre Lusitano. Na Mostra eles deverão passar o novo filme dele que concorreu em Veneza, imperdível.
Fala, Marcelo, vá ver sim, é um grande filme!
Estou com muita vontade de ver o novo filme do Mestre, Belle Toujours, onde ele homenageia uma das obras-primas (A Bela da Tarde) do meu diretor preferido, Buñuel! Imperdível, mesmo!!!!
Abraço!
Essse cumpre o papel de mostrar ao Michel (cinenetcom) a importância do mestre Buñuel e de "A Bela da Tarde", afinal, o Michel é fã do Oliveira -hehehehe.
Do meu lado, eu admito q. o cineasta português andou me desinteressando, seu cinema é demasiado literário pro meu gosto, mas fiquei bastante instigado por esse post, acho q. pelo fato do Sergio destacar aspectos cinematograficos (a citada cena da ruptura) e por valorizar os temas abordados associando-os ao velhinho q. nunca me causou sono no cinema, o mestre Buñuel. Se descolar tempo, pretendo conferi-lo depois do filme de Michael Mann, o qual já me interessava pelo diretor e por ter sido captado em digital, mas q. depois do excepcional texto do Renato Doho, se tornou obrigatório.
Manoel de Oliveira continua vivo mas só Ricardo Trepa.
Fala, Edú! É, acho que o Michel vai ter que rever alguns conceitos depois de ver esse, afinal o cinema do Oliveira deve, e muito, ao de Buñuel!
O estilo do Manoel é esse mesmo, literário, com longos diálogos e planos fixos, mas também muito cinematográfico, o que fica claro nessa cena citada e em outras, como uma sequência onírica quase no final em que a câmera passeia por uns prédios de Veneza. Sensacional!
Qto ao filme do Mann não acho que seja o grande filme do ano, como muitos estão dizendo, mas é um bom filme.
Mas qdo Gong Li está em cena ai fica realmente grande :)
Abraço!
Ailton, que piada mais infame HEHEHE!!
Foi mal, Sergio, mas eu não resisti. heeheheh
anotado, quero ver. beijos, pedrita
Eu adorei a piada infame hehehe.
Por aqui tá difícil de chegarem os filmes do velhinho.
Oi Sérgio,
Dando uma passada pra me atualizar, já que a sua é uma opinião em que se pode acreditar...
E qual não foi minha surpresa ao ler, num post anterior, que você não é muito fã do cinema argentino!
Por que?
Eu sou, total.
Obrigada pelas dicas,
abração
Ailton, a piada foi infame, mas ótima HEHE!
Pedrita, veja sim! Beijos!
Milton, quer dizer que pelo menos nisso estamos na frente do Canadá?
Oi, Criss! Pois é, o cinema argentino não me convence. Os filmes de alguns cineastas de lá considerados geniais, como os da Lucrecia Martel, considero de uma chatice atroz. Mas não quero generalizar, gosto dos filmes do Pablo Trapero (acho que é esse o nome)p. ex. Tem um sobre policiais que é muito bom!
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Abraços!!!
Esse filme argentino sobre policiais é ótimo!!! E penso o mesmo sobre a Lucrecia.
Do outro lado da lei (El Bonaerense), é esse o nome do filme, ótimo! E que bom que vc pensa o mesmo sobre a Lucrecia!
Olha, tem muita coisa que chega antes no Brasil que aqui. Acho que para um certo tipo de filme o que vale é a capacidade dele acontecer nos festivais de mostras. Nunca vi nenhum fillme do Oliveira passar nos cinemas daqui (estou há dois anos), o último do Godard idem, o Manderlay do Trier estreou mais de seis meses depois da estréia brasileira.
E viva a Lucrécia Martel!!!!
Vi o trailler desse filme do Manoel de Oliveira e fiquei instigada a assisti-lo e vc, Sergio, botou mais lenha na fogueira. Seu ótimo post está me fazendo crer que essa obra do mestre é imperdível.
Bjão!
Milton, até entendo que os filmes do Oliveira não passem nos cinemas dai, mas o Notre Musique do Godard? Uma surpresa realmente!
E não concordo com esse viva pra Martel hehe!
Graciele, é imperdível mesmo! Creio que vc vai gostar, principalmente sendo uma boa fã do velhinho :)
Beijão!
Meu caro: Concordo plenamente (ou quase) com a sua afirmação inicial - "Manoel de Oliveira continua comprovando que é o mais jovem cineasta em atividade no momento". Aliás, não me lembro de outro diretor que, aos 94/96 anos, ainda seria capaz de fazer filmes instigantes. Um abraço.
Meu caro Moacy, Oliveira é um caso único na história do cinema. Um diretor nessa idade fazendo um filme por ano, e sempre instigantes. Coisa de gênio!!!
Abraço!
Estou na febre para assistir Espelho Mágico e Sabor De Melancia, mas que dificuldade, não sobra tempo e quando menos espera eles desaparecem! Até mais Sergio!
Nem me fale em tempo, Urina! Ainda não vi Sabor da Melancia, Pai e filho...
E os filmes tem ficado pouco tempo em cartaz mesmo. Portanto corra pra ver Espelho Mágico!
Abraço!
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