18/05/2007

BAIXIO DAS BESTAS

Mais um polêmico filme nacional nos cinemas, e de novo com o ator Caio Blat no elenco.
O diretor dessa vez é Cláudio Assis, odiado e admirado com a mesma intensidade.
Baixio das Bestas se passa na Zona da Mata de Pernambuco, região dominada pelo plantio de cana-de-açúcar.
Logo no começo vemos um velho despindo uma adolescente, a câmera se afasta mostrando um grupo de caminhoneiros que pagam para ver a garota nua e se masturbarem. O velho é avô da garota, mas também correm rumores de que também seria seu pai. Enfim, estamos num mundo sórdido, e tal como havia feito
em Amarelo Manga, Cláudio Assis expõe esse mundo sem a preocupação de ser politicamente correto.
Além da menina, chamada Auxiliadora, e de seu avô, convivem naquele lugar um grupo de filhinhos de papai que se reúnem no cinema desativado do pai de um deles, e que será demolido (e onde assistem um trecho explícito de “Oh! Rebuceteio”, de Cláudio Cunha); um rapaz, Maninho, que está abrindo uma fossa que nunca termina; as prostitutas do bordel local e o grupo de Maracatu que se apresentará na Capital.

Nessa cidade onde não há o que se fazer e o tempo parece não passar, as mulheres são as maiores vítimas. Cenas como a da menina explorada sexualmente, as prostitutas agredidas constantemente (uma tem o rosto pisoteado diversas vezes, outra é estuprada com um pedaço de pau) tem provocado vaias em festivais e acusações de misoginia contra o diretor. Mas não é isso que continua acontecendo nos rincões do país?
E no entanto nesse ambiente violento, sórdido, rústico, ainda existe espaço para a pureza e para a beleza, como na cena onde Auxiliadora se banha no rio.
Na verdade todos os personagens, mesmo aqueles que parecem ser os mais repulsivos, são mostrados com suas contradições: o avô vive fazendo discursos moralistas; Maninho, por outro lado, que poderia representar uma salvação para Auxiliadora, é visto caindo de bêbado com uma garrafa de pinga na mão; e Cícero, um dos agroboys, poderia até amá-la de verdade, mas nunca saberia como demonstrar.
Para dar vida a esses personagens, Assis reuniu um grupo de rostos e talentos reconhecidos: os agroboys são Matheus Nachtergaele (talvez um tanto over) e Caio Blat, que se consagra como o ator do ano até o momento; o trio de prostitutas principais são Dira Paes, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes (de “O Céu de Suely”), todas maravilhosas. Mas o destaque vai para os atores de nomes menos famosos: Mariah Teixeira (Auxiliadora), Fernando Teixeira(o avô), Conceição Camarotti (a cafetina) e Irandhir Santos (Maninho).

E se você pensa que no cinema de Cláudio Assis não existe lugar para a transcendência está enganado, pois ele termina seu filme com dois elementos de purificação: primeiro o fogo, depois a água.

Em alguns momentos “Baixio das Bestas” me lembrou um filme de Shohei Imamura. Tal qual o célebre diretor japonês, Assis tem o olhar de entomologista, observando através de uma lupa o comportamento de seus sofridos personagens.

Você pode até não gostar, mas com certeza não ficará indiferente à beleza das imagens registradas pela câmera de Walter Carvalho.

Desde já um dos melhores filmes do ano.

23 comentários:

Anônimo disse...

Amarelo Manga é um grande filme. Esse pelo jeito promete - ainda mais com essa comparação com o Imamura!

Anônimo disse...

Pode ir sem medo, Bakemon! Você como bom apreciador da obra do Mestre com certeza vai perceber as semelhanças.

Anônimo disse...

Bakemon, BAIXIO... é melhor do que AMARELO MANGA!

Osvaldo Neto (www.vaeveja.blogspot.com)

Anônimo disse...

Sergio, um amigo local me falou que o filme do Assis chegou aos cinemas natalenses, mas ainda estou em dúvida se amanhã vejo primeiro o Baixio das Bestas ou o Maria Antonieta. Como gostei mais do Amarelo Manga do que Encontros e Desencontros, considero a melhor escolha então o filme do Assis. Pintando vez ou outra como um escroto, mas um dos melhores diretores brasileiros contemporâneos. Ah, não esqueci sua encomenda, mas é que as coisas aqui na universidade tem tirado tanto o mue juízo que suas necessidades lynchianas são sempre secundarizadas hehehe Abraço!

Anônimo disse...

Oi SÉRGIO. Como eu já comentei lá no Blog, é o grande filme brasileiro do ano até agora e a Mariah Teixeira é uma revelação, uma atuação corajosa para uma jovem e iniciante atriz. Marcos, veja os dois filmes, por favor, são dois dos melhores do ano com certeza, muito diferentes mas feitos por dois autores de muita personalidade.

Anônimo disse...

Também acho Baixio melhor que Amarelo Manga, Osvaldo, ou seja, é um filmaço :)

Marcos, gostei muito de Amarelo Manga e Baixio das Bestas; detestei Encontros e Desencontros mas gostei de Maria Antonieta. Então Claudio Assis leva vantagem, mas deixo a escolha por você hehehe! Mas não deixe de conferir os dois, pois como disse o Carrard estão entre os melhores filmes do ano!
Quanto a encomenda, não se preocupe, mande quando puder.

Marcelo, considero Baixio...não apenas o melhor brasileiro mas um dos melhores do ano independente de nacionalidade. Grande filme mesmo, grande diretor esse Cláudio Assis!
A Mariah Teixeira, se for bem aproveitada, vai longe, ótima atriz. Ela é a alma do filme!

Abraços a todos!

Anônimo disse...

Vejo ambos então, Marcelo; obrigado Sergio.

urina disse...

Fala Sérgio, filme pesadíssimo, irá fazer o pessoal vaiar, até chegar ao ponto da descoberta questionante: uma ficção totalmente real? Considero um dos melhores do ano também.
Fico agradecido por ter gostado do texto lá no blog, o seu está ótimo "Fogo e Água", abraços!

Anônimo disse...

Oi, Urina!
É isso mesmo, um dia o filme terá o reconhecimento que merece.
Obrigado pela visita e pelo comment Urina, abraço!

Anônimo disse...

Bem, todo artista pode nos surpreender, mas confesso q. como detesto o curta "Texas Hotel" e muita gente dizia q. "Amarelo Manga" era a vs. do mesmo em longa, eu nem me dignei a conferir, e uma das coisas q. me incomodou bastante naquele curta foi a foto de Walter Carvalho, eu acho q. ele costuma embelezar o q. deve ser feio e se sobrepor esteticamente ao conjunto do filme, 02 pecados mortais para um fotografo.

Todavia, meu assunto é outro, estive agorinha mesmo em sto amaro, como tenho comentado, estou com pouquíssimo tempo livre por conta dos compromissos, mas hoje arrumei uma brecha e me desloquei até a biblioteca daquela região para assistir em 16mm um dos filmes da minha vida: "A Casa da Noite Eterna" e eis q. depois de 1h:30 entre a espera pelo ônibus + o trajeto fui surpreendido por um aviso lacônico sobre o cancelamento da exibição, perguntei se vc. estava por lá e me informaram q. não.

Enfim, fiquei bastante chateado e encarei mais 1h:30 de retorno, sei q. essas coisas podem acontecer e não há como prever os imprevistos - rsrsrs -, mas espero q. os motivos sejam os mais justos e q. de fato não tenha havido tempo para um informe sobre o cancelamento, pois tive o cuidado de checar o seu blog.

Bom, fica a sugestão prá q. vc. confirme se haverá ou não a sessão do raríssimo "O Anjo da Noite". Da minha parte, confesso, não sei se terei pique para uma nova aventura até sto amaro - rsrsrs- ...

Gde abraço, Edú Aguilar

Anônimo disse...

Oi, Edú!
Estou tão surpreso quanto você, pois até ontem tinha certeza que o filme seria exibido.
Você que acompanha meu blog deve lembrar que eu coloquei um comunicado aqui no mês passado avisando que a sessão do "Amargo Triunfo", de Nicholas Ray, havia sido cancelada.
Se eu tivesse sido avisado com antecedência teria feito o mesmo agora.
Hoje eu não fui na biblioteca mesmo, já havia até informado isso para o Carrard.
Segunda-feira vou procurar saber o que houve, mas desde já peço um milhão de desculpas a você e todos os que tiveram o trabalho de se deslocar até a Biblioteca.
Sei o quanto é complicado ir até lá.
Pode ter certeza que irei confirmar com o Vinícius se haverá ou não a sessão do "Anjo da Noite", pois sei que tem muita gente interessada em assistir essa raridade. E informarei aqui alguns dias antes.

Você sabe o quanto é difícil para mim e para o Vinícius montar essas programações, mas isso não justifica essa falha
Mais uma vez peço desculpas pelo incoveniente, e farei tudo que estiver ao meu alcance para que fatos como esse não mais se repitam.

Abraço envergonhado rs!
Sergio Andrade

Anônimo disse...

Porco Dio !!! Catzo, e eu tive um imprevisto e não pude ir hoje e para piorar caiu uma chuva animalesca por aqui bem na hora de eu pensar em sair e me senti culpado de não ter ido. Por favor SÉRGIO confirme se vai ter a Sessão do Anjo da Noite, a gente divulga com a maior boa vontade e por tabela somos tb cobrados quando tem um imprevisto desses.

Anônimo disse...

Poxa, que sorte a sua Marcelo, essa chuva foi providencial rs

Falando sério, Marcelo, estou me sentindo culpado e envergonhado pelo acontecido. Pode ser que o Vinícius tenha tido algum contratempo também e por isso não houve a sessão, não sei, é uma hipótese.
Pode deixar que confirmarei com ele se haverá a sessão do filme do Khouri e informarei a todos vcs.

Desculpem mais uma vez pelo imprevisto.

urina disse...

Sérgio, me lembro de você estar afim de assistir ao Hitler 3º Mundo, então... o mesmo será exibido nessa quinta-feira (24/05) às 20hs no Espaço Unibanco, ele faz parte do Projeto Carta Branca e será exibido em sessão única sendo gratuitamente, tendo somente que retirar o ingresso com uma hora de antecedência.
Qualquer coisa acesse: http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?/Projeto_Carta_Branca_traz_filmes_gratuitos/CINEMA/SAO_PAULO/&a=1&ID=11&cd_news=26571&cd_city=1
Abraços!

Anônimo disse...

Quando vi Amarelo Manga, tive certeza de estar diante de um grande cineasta. Não deu outra! Baixo das Bestas é duro, forte, indigesto, brutal, polêmico, perverso, amoral, sexual até a raiz do cabelo. Caio Blat brilhante. Matheus Nachtergaelle Fantástico. Dira Paes exuberante. e o avô da menina auxiliadora... Fantástico! Baixio é um filme que fede. E fede muito. Usando as palavras do maracatuzeiro que diz "sentir o cheiro da podridão do mundo", Retruco dizendo: "sinto o cheiro acre do sucesso e do verdadeiro cinema". O melhor filme nacional do ano até agora.

(http://claque-te.blogspot.com): Água Negra, de Walter Salles.

Anônimo disse...

Urina, muito obrigado, cara, pela informação! Não estava sabendo desse projeto. Sou louco pra ver esse filme...e de graça ainda por cima? Vou fazer todo o possível para ir. Valeu mesmo, meu amigo!

Roberto, concordo com (quase) tudo que você disse. Acho que o Matheus distoa do resto do elenco, ele me pareceu muito "over", muito exagerado. Mas tirando essa minha implicância, considero o filme perfeito, um dos melhores do ano, sem dúvida alguma!

Abraços!

Moacy Cirne disse...

Oi, não morro de amores por "Amarelo manga", mas pretendo ver o "Baixio" esta semana. O seu texto, por sinal, é muito bom. Abraços.

Anônimo disse...

Oi, Moacy, obrigado! Veja o "Baixio" sim. É um filme forte, polêmico, mas essencial!
Um abraço!

Moacy Cirne disse...

Vi, ontem, o "Baixio". Você tem razão, Sérgio, é um filme forte. Brutal - na medida certa. Pareceu-me mais bem resolvido do que "Amarelo managa". Em síntese: gostei bastante. Um abraço.

Anônimo disse...

Legal você ter gostado, Moacy!
Também acho Baixio melhor do que Amarelo Manga, o qual aliás eu gosto muito.
Valeu pelo comment, meu caro!

Anônimo disse...

Sergio, ontem, como sempre, passei por aqui, li esse seu post delicioso msonre Baixio das bestas, escrevi um comment imenso e...adivinha?...perdi todo o texto. Fiquei aborrecidíssima.

Ainda não vi Baixio das bestas e, confesso, nem estava pensando em fazê-lo, mas os comentários entusiásticos seus, e do pessoal aqui do blog, me fizeram mudar de idéia. Pretendo ir o quanto antes.
Vi Gwoemul! Gostei muito. Fiquei impressionada com a poluição do rio Ran. O diretor não se envergonhou de mostrá-lo de pertinho, adorei isso, acho que pode impingir uma certa conscientização nos coreanos.
Aquela Coreia desolada e chuvosa me afetou, fiquei angustiadíssima com aquela realidade, com a família destroçada (foi curioso ver que as mães não são presentes). O monntro me impressionou bem. Ele é tão bem feito, tão real. Um outro ponto interessante foi a crítica direta à política intervencionista americana, creio que não foi à toa que o protagonista (bobão) era louro! Daí, qdo ele assume responsabilidades, ele volta à sua origem, com cabelos negros! :D Obrigada pela dica, querido!

Anônimo disse...

Graciele, da próxima vez lembre-se de dar um CTRL-C no comentário antes de enviar.

Quanto ao Gwoemul acho que a intenção do diretor era mostrar mesmo como o rio Han está poluído. Isso nos faz lembrar do nosso pobre Tiete!
Sua análise como sempre é perfeita. Revi o filme ontem no cinema e percebi o lance da mudança da cor do cabelo, que me deixou bastante intrigado, e agora você matou a charada! Eita mulher inteligente!!! :)

Anônimo disse...

Ohhhh, assim vc me deixa envergonhada....;)

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