"De dentro da prisão, presidiário
manda cartas comprometedoras para pessoas importantes, exigindo favores em
troca de sigilo.
Filme que retrata acontecimentos
recentes da política brasileira?
Não, trata-se de uma produção da
Cia. Cinematográfica Vera Cruz realizada em 1953.
Logo no começo vemos um ladrão
fazendo todo o possível para ser preso. Seu nome é Dorival e ele planejou o
golpe perfeito: escolhe no obituário dos jornais um milionário recentemente
falecido (o título refere-se à brincadeira infantil, do tipo “uni, dune, te”),
escreve uma carta endereçada ao defunto sugerindo que eram comparsas em um
grande golpe para que os familiares leiam e paguem uma vultosa quantia em
dinheiro em troca de seu silêncio, afim de evitar o escândalo. Com a grana na
conta Dorival começa a levar uma vida de mordomia na prisão (soa igualmente
familiar?). Tudo poderia levar a um final feliz, não fosse a paixão dele por
outra prisioneira, Dora, que resultará no irônico e doloroso final.
O roteirista italiano Fabio Carpi
(de vários outros filmes da Cia, como “Sinhá Moça” e “Floradas na Serra”, e
futuro diretor de obras sensíveis como “Quarteto Basileus”) com certeza se
baseou em algum fato real acontecido na época (e o letreiro dizendo o contrário
reforça essa impressão). Ele capta, de forma contundente, a arrogância e
prepotência típicas da burguesia paulistana (e isso vindo de uma empresa que
sempre foi criticada, pelos setores da esquerda, por ter sido criada pela burguesia
industrial).
Várias sequências se tornaram
clássicas, como a que mostra o comportamento dos 4 filhos de um banqueiro antes
e durante o velório; aquela durante o enterro de um figurão, com um traveling
acompanhando os comentários cínicos e irônicos dos “amigos” do morto; ou o
último golpe, que termina com uma manifestação sobrenatural (e efeitos
especiais muito bem feitos para a época).
O também italiano Luciano Salce,
no Brasil desde 1950 trabalhando no Teatro Brasileiro de Comédia, estreou na
direção já demonstrando o talento que seria comprovado na sua volta à Itália em
comédias como “Homem, Mulher e Dinheiro”, os episódios de “As Bonecas” e “As
Rainhas”, e “Pato com Laranja”. Sem esquecer que ele foi também o responsável pelo
excelente “Floradas na Serra”.
No elenco além de Waldemar Wey
(de curtíssima carreira) e a premiada Gilda Nery, brilham Paulo Autran, a russa
Lola Brah, John Herbert, o galã Mário Sérgio, Célia Biar, Xandó Batista, Jaime
Barcellos e, numa ponta, uma muito jovem Eva Wilma.
Na equipe técnica vale destacar
os trabalhos do montador Mauro Alice, do fotógrafo Ugo Lombardi – premiado com
o “Saci”, assim como o cenógrafo Ítalo Bianchi – e do músico Enrico Simonetti.
“Uma Pulga na Balança” pode ter
envelhecido em alguns aspectos (como no comportamento dos guardas do presídio,
p.ex.), mas continua sendo uma das melhores sátiras sociais já produzidas no
país."
Publicado originalmente na revista Zingu! n° 39.
Publicado originalmente na revista Zingu! n° 39.
2 comentários:
Sérgio,
vi esse filme há alguns na TV e achei-o bem interessante. Não me lembrava que o roteiro é de Fabio Carpi, que dirigiu esse belo Quarteto Basileus, que gostaria de rever. Será que foi lançado em DVD? Um abraço e bom que você continue no batente.
É muito interessante mesmo, Sobreira. Acho que Quarteto Basileus não foi lançado em DVD, infelizmente.
E você, quando vai retomar seu blog? A blogosfera precisa de gente que entende de cinema como você.
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