21/05/2006

DOPPERUGENGÂ

Michio Hayasaki é um brilhante cientista que está enfrentando dificuldades com seu novo invento, uma cadeira de rodas inteligente, com braços mecânicos, capaz de “ler” os pensamentos de seu ocupante e realizar tarefas como acender um cigarro, quebrar um ovo, se locomover para onde a pessoa quiser. Pressionado por todos os lados, a começar pelo seu superior, que diante dos resultados apresentados quer cortar a verba do projeto, Michio entra numa crise de nervosismo, tornando-se irascível com todos à sua volta.
Um dia, em seu apartamento, ele dá de cara com seu doppelganger, seu duplo. A princípio pensa tratar-se de uma alucinação, mas as aparições do duplo vão tornando-se cada vez mais freqüentes, até o momento em que os dois passam a dividir o mesmo teto.
Apesar de fisicamente idênticos, eles tem personalidades diferentes. Enquanto o Michio verdadeiro é reservado, tímido, seu doppelganger é desinibido, falastrão, e sem qualquer restrição de ordem moral. Ele poderá então fazer tudo o que outro não consegue, como destruir seu laboratório, transar com sua assistente, roubar documentos de uma empresa concorrente e até mesmo matar.
Dopperugengâ tem uma dinâmica diferente dos outros 2 filmes que já comentei do Kurosawa, Kairo e Karisuma. Aqui o diretor apresenta uma direção mais ágil, dividindo a tela em vários momentos quando os 2 Michios encontram-se em cena (e a interpretação de Koji Yakusho desta vez é excepcional), permitindo-se um certo humor negro (as tiradas do duplo são ótimas) e fazendo citações até de Spielberg (a cena da pedra gigante rolando atrás de Indiana Jones em "Caçadores da Arca Perdida" é refeita aqui, de forma hilária).
Mas seus temas preferidos continuam presentes, como a solidão e o peso da tecnologia na vida moderna.
E a idéia do duplo, pensar que pode existir uma pessoa exatamente como nós, vivendo uma vida paralela, é fascinante! A literatura e o cinema já abordaram diversas vezes esse assunto, como Kieslowski em “A Dupla Vida de Veronique” (que um amigo se referia como “Não Entenderás” hehe).
Para concluir minha visão sobre a obra do diretor, falta fazer um comentário: seus filmes prestam-se a uma boa discussão sobre o uso do digital no cinema. Nos três filmes que vi, Kiyoshi serve-se dos efeitos digitais não de forma ostensiva, exibicionista, mas sim fazendo com que eles estejam perfeitamente integrados dentro do que ele quer mostrar.
Seja com os fantasmas e um avião caindo sobre Tóquio em Kairo; a estranha floresta e cenas bizarras de Karisuma; ou Michio e seu duplo e a cadeira de rodas inteligente de Dopperugengâ (e o making of mostra como foram realizados os truques), Kiyoshi Kurosawa demonstra ser o diretor que melhor sabe utilizar esses recursos atualmente.

13 comentários:

Anônimo disse...

Excelente resenha!!! Aliás, o filme todo foi feito com câmera digital e com um resultado de imagem muito bom ao meu ver. Te falta descobrir o niilista "Cure" sobre um serial killer q. não executa os crimes pelos quais é responsável.

Anônimo disse...

Obrigado, Edú! Quer dizer que foi todo feito em digital? O resultado de imagem está perfeito, muito bom mesmo, mais um ponto a favor do Kiyoshi! Estou muito curioso em ver "Cure", tem como ele entrar nas novas trocas? :)

Anônimo disse...

Um filme menor do Kurosawa, mas que valeu uma assistida, pois homenageia o Brian de Palma em vários momentos.

Anônimo disse...

SÉRGIO considero esse filme do K Kurosawa um dos melhores desse início de milênio, uma experiência fascinante e perturbadora. Ouso discordar do Mestre Bakemon, acho esse filme a Obra prima do K Kurosawa e vejo além das semelhanças com De Palma, muito de David Cronemberg...

Anônimo disse...

Sério que vc acha um filme menor, Bakemon? Eu adorei, dos 3 que eu vi esse é o melhor, onde as idéias dele estão mais claras, sem deixar de ser instigante. Abç!

Marcelo, como vc pode ver também discordo do Mestre Bakemon :)
Tb acho que seja uma obra-prima, uma experiência audiovisual fascinante, onde se pode ver homenagens não somente a De Palma e Cronenberg, mas também Kieslowski, Spielberg e até mesmo, no final, Chaplin!
Tudo isso sem deixar de ser absolutamente autoral!

Anônimo disse...

Epa, epa, epa... Vamos parar com esse negócio de mestre! Bom, esse "menor" não quer dizer "ruim", mas sou tão fã do Cure e do Seance e até mesmo do Charisma que fica um gostinho de quero mais toda vez que assisto um novo filme dele. Abraço a todos.

Anônimo disse...

É... cada vez mais fico com vontade de ver algum filme desse cabra...

Anônimo disse...

Ok, Mest...err, digo, camarada Bakemon :)
Quero muito ver Cure e Seance, que muita gente, inclusive vc, considera os melhores dele. Aliás, a Fundação Japão bem que poderia promover uma mostra dos seus filmes por aqui, não acha?

Ronald, vc precisa mesmo conhecer a obra dele. Vamos torcer para que alguma alma caridosa traga seus filmes pra cá.

Abraços!

Anônimo disse...

Meu caro: Seus Melhores Filmes já estão no Balaio. A partir de hoje, inclusive, apresentamos algumas surpresas tendo em vista uma enquete semelhante feita em 1996. Um abraço.

Anônimo disse...

Opa, valeu Moacy! Vou lá conferir. Abraço!

Anônimo disse...

Rapaz, peço mil desculpas pelo ocorrido no meu blog. Mas já está tudo acertado...amigos de novo?

Anônimo disse...

Mas é claro que sim, Ronald, nem cogitei de algo diferente. Abraço!

Anônimo disse...

Em tempo, a piada do "Não Entenderás" foi uma das melhores sacadas cinéfilas q. li nos últimos tempos, apenas como provocação, melhor q. manjada "Asas do Bocejo".

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